quinta-feira, 25 de outubro de 2007

ENTRE O CRIME E A MENTIRA

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 25 de outubro de 2007



O episódio do Prêmio Nobel James Watson, suspenso do Laboratório Cold Spring Harbor por ter dito que os negros são inferiores aos brancos, é uma excelente ocasião para fazer recordar à comunidade politicamente correta alguns fatos que ela já conseguiu extirpar da mídia e dos livros didáticos, mas que, por milagre divino ou negligência da censura, ainda estão vivos nos documentos.

O racismo é, por inteiro, uma criação da modernidade, das luzes, da mentalidade científica, ateística e revolucionária, e não das tradições religiosas que formam a base da nossa civilização. Nem haveria como ser de outro modo. Não pode existir um sentimento de superioridade racial sem prévia identidade racial, nem muito menos esta poderia ter surgido antes que o conceito de raça fosse criado pelos biólogos iluministas no século XVIII. E mesmo que eles o tivessem inventado numa época anterior, ele não poderia ter-se transfigurado em instrumento de guerra cultural antes que a classe dos cientistas e dos intelectuais acadêmicos tivesse adquirido, em substituição ao clero, a autoridade pública de suprema instância legitimadora das idéias.

Por isso mesmo, você não encontrará nos dogmas da Igreja, nas sentenças dos Papas ou nas decisões conciliares uma só frase que sugira, nem mesmo de longe, a superioridade dos brancos sobre os negros. Em compensação, encontrará muitas nas obras dos enciclopedistas, de Kant, de Voltaire, de Karl Marx e de Charles Darwin -- os gurus máximos das luzes, do progressismo e da revolução. Se Voltaire enriqueceu no comércio de escravos e Kant assegurou que “os negros da África, por natureza, não têm sentimentos acima da frivolidade”, Marx e Darwin, em especial, fazem daquela pretensa superioridade branca um argumento ostensivo em favor do extermínio das “raças inferiores”, que o primeiro considerava necessário ao progresso histórico e o segundo um pressuposto básico da evolução humana, concordando nisso com seu antecessor Herbert Spencer e sendo ecoado fielmente por seus dois principais discípulos, Thomas Huxley e Ernst Haeckel, o que mostra que toda tentativa de separar evolucionismo e racismo é pura maquiagem ex post facto . A rigor, a declaração de James Watson contra os programas sociais, ante a qual os paladinos da boa imagem da ciência tanto se fingem de escandalizados, não passa de uma versão atenuada do seguinte parágrafo de Charles Darwin:

“Entre os selvagens, os fracos de corpo e mente são logo eliminados. Nós, civilizados, fazemos o possível para evitar essa eliminação; construímos asilos para os imbecis, os aleijados, os doentes; instituímos leis para proteger os pobres... Isso é altamente prejudicial à raça humana.”

Se, após ter espalhado no mundo esse apelo genocida, a ideologia progressista-científica tenta inculpar por isso as épocas anteriores que o desconheciam, não há aí nada de estranho: é da essência do movimento revolucionário inverter a ordem do tempo histórico e, com ela, a autoria das ações, transfigurando a inocência alheia em crime e a sua própria abjeção em motivo de vanglória.

Lênin viria a resumir esse procedimento-padrão na máxima: “Acuse-os do que você faz.” Isso é assim nos grandes como nos pequenos lances da história desse movimento. Quando nossos políticos de esquerda fomentam a criminalidade e depois a diagnosticam como criação perversa da “sociedade de classes”, ou quando vão construindo o Mensalão em segredo ao mesmo tempo que brilham ante os holofotes como perseguidores de corruptos, não lhes falta a quem imitar. A tradição revolucionária é o perfeito casamento do crime com a mentira.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A psicodelia dos 60 & 70 no Brasil, da garagem às misturas regionais

HISTÓRIA DO ROCK PSICODÉLICO BRASILEIRO, artigo tirado do blog Cantina do Rock. Para download dos discos citados, recorte o endereço e cole no seu navegador ou então clique no título desta postagem e entre no referido blog, onde se encontram os links.

* Fernando Rosa

A psicodelia se fez presente no rock nacional com suas guitarras distorcidas e letras lisérgicas desde o final dos anos sessenta, desdobrando-se em som progressivo e outras misturas afins até a primeira metade dos anos setenta, incorporando inclusive as sonoridades regionais, especialmente a nordestina. Enfrentando toda sorte de preconceito, o gênero contribuiu para alargar os horizontes da música jovem brasileira, cujas estruturas conservadoras haviam sido abaladas pouco tempo antes pelo som de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rogério Duprat e Os Mutantes, no movimento batizado de Tropicalismo. Sem apelo comercial, o som psicodélico ficou restrito a grupos mais radicais, ao público mais descolado e sintonizado com o movimento hippie e a poucas gravações, em raros e valiosos lps e compactos.
As primeiras manifestações psicodélicas ocorreram em São Paulo, por meio de grupos como The Beatniks, Os Baobás e The Galaxies, que introduziram em seus repertórios clássicos do gênero produzido nos Estados Unidos, especialmente. The Beatniks, grupo de palco do programa Jovem Guarda (Roberto Carlos) na TV Record, aliado ao agitador cultural e artista plástico Antônio Peticov, produziu ótimos compactos, com covers de Gloria (Them), Fire (Jimi Hendrix) e Outside Chance (The Turtles). Os Baobás, que teve Liminha entre seus membros, também destacou-se por meio de cinco ótimos compactos e um LP, onde registraram sua paixão por Doors, Jimi Hendrix e Zombies, entre outros. Enquanto The Galaxies, misto de paulistas, americanos e ingleses, deixaram um raro e clássico álbum gravado em 1968, contendo canções originais e covers para Love, Donovan e outros ícones da geração flower power.



Ainda nos anos sessenta, outras bandas como The Beat Boys, Os Brazões e Liverpool produziram obras geniais que ficaram na memória de quem viveu a época. The Beat Boys, depois de acompanhar Caetano Veloso em Alegria Alegria e Gilberto Gil em Questão de Ordem, gravou um excelente álbum, lançado em 1968, que contém alguns clássicos da psicodelia nacional, como Abrigo de Palavras em Caixas do Céu. Os Brazões também gravaram apenas um ótimo e ultra-tropicalista lp, que contém Gotham City (regravada pelo Camisa de Vênus, nos anos oitenta), Pega a Voga Cabeludo (de Gil), Momento B8 (Brazilian Octopus) e Planador (Liverpool), entre outras pérolas sonoras. Já o grupo gaúcho Liverpool é responsável por um dos melhores álbuns gravados nos anos sessenta, o LP Por Favor, Sucesso, que contém as clássicas Impressões Digitais, Olhai os Lírios do Campo e Voando, entre outras.

Menos conhecidos, grupos como Spectrum, Bango, Módulo 1000, Equipe Mercado e A Tribo também marcaram com suas misturas sonoras o início dos anos setenta. O grupo Spectrum, de Nova Friburgo, com a trilha sonora do filme Geração Bendita, produziu um dos mais raros e desconhecidos discos de psicodelia dos anos setenta, com qualidade internacional, e ainda atual. O carioca Módulo 1000, por sua vez, marcou o início da década de setenta com seu som psicodélico-progressivo, registrado no disco Não Fale Com Paredes, outro clássicos do rock nacional de todos os tempos, relançado em CD. A Tribo, com Joyce, Toninho Horta e outros músicos que depois brilharam na MPB, e Equipe Mercado, tendo à frente a dupla Diana e Stull, transitaram entre a influência roqueira e as sonoridades regionais, deixando algumas poucas gravações.

A partir dessas primeiras experiências, e incorporando o som progressivo, inúmeros grupos transportaram a juventude brasileira para espaços mais livres e criativos, além dos limites impostos pela censura ditatorial. Apoiados na riqueza musical nacional, os grupos misturaram rock, tropicalismo, barroco, jazz, erudito, som oriental, música regional e tudo o mais disponível para criar um dos universos sonoros mais criativos do planeta, naquele momento. Grupos como A Barca do Sol, Som Nosso de Cada Dia, Moto Perpétuo, Som Imaginário, Terreno Baldio, Recordando o Vale das Maçãs, Soma, Veludo, Vímana e Utopia - uns mais conhecidos, outros ainda obscuros para a grande maioria - deram a sua contribuição de ousadia e de inventividade sonora e poética para a história do rock brasileiro.
Ainda, em meados dos anos setenta, Lula Côrtes, Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Paulo Raphael, especialmente, deixaram a marca de uma nova e delirante mistura, que resultou na posterior invasão nordestina. Em 1972, com participação do maestro Rogério Duprat, Alceu Valença e Geraldo Azevedo produziram um disco em parceria, que trazia influências pós-tropicalistas, rock and roll e sonoridades nordestinas, que antecipou o clássico Paêbirú, O Caminho do Sol - raro e ultrapsicodélico álbum duplo, gravado em 1974, sob o comando de Lula Côrtes e Zé Ramalho. Na seqüência, transitando para a afirmação dos ritmos mais regionais, Alceu Valença, Zé Ramalho e o grupo Ave Sangria (de Paulo Raphael), especialmente, ainda produziram peças com viés psicodélico, como Vou Danado Pra Catende (Alceu Valença), A Dança das Borboletas (Zé Ramalho) e Momento na Praça (Ave Sangria).

As bandas e artistas : Atenção estaremos atualizando os links gradativamente!

Apresentamos aqui uma relação das principais bandas e intérpretes que fizeram a história da psicodelia brasileira, nos anos sessenta e setenta. Os verbetes são sintéticos, e alguns deles foram publicados originalmente na revista ShowBizz (de novembro/2000).

Beatniks
http://www.badongo.com/file/1771237
Legenda do rock paulistano, The Beatnkis foi o grupo de palco do programa Jovem Guarda e, ao mesmo tempo, responsável por surpreendentes compactos garageiro-psicodélicos. Entre 67 e 68, gravou quatro disquinhos pelo selo Rozemblit contendo covers para Turtles (Outside Chance), Them (Gloria) e Jimi Hendrix (Fire), entre outros. Em suas diversas formações, o grupo contou com Bogô, Regis, Nino, Márcio, Mário e Norival. Antônio Peticov produzia as capinhas psicodélicas da banda.

Código 90
Banda paulistana formada em 67 pelo ex-Top Sounds e Loupha, Marcos 'Vermelho' Ficarelli (guitarra), Mário Murano (teclado), Pedro Autran Ribeiro (vocal), Sérgio Meloso (bateria) e Vitor Maulzone, além do guitarrista Tuca. Agitaram as domingueiras do Clube Pinheiros, em São Paulo, com apresentações psicodélicas, e deixaram apenas um raro compacto pelo selo Mocambo/Rozenblit - Não Me Encontrarás/Tempo Inútil (67).

Serguei
Com visual/postura rocker-hippie e uma discografia dispersa em raros compactos, Serguei é um ser psicodélico por natureza. Em 67, gravou Eu Sou Psicodélico, As Alucinações de Serguei e o mix de rock-Jovem Guarda-protesto chamado Maria Antonieta Sem Bolinhos. Em 69, com a banda The Cougars, gravou Alfa Centauro, um flerte com o tropicalismo, sem perder a 'acidez'. Ouriço e Burro-Cor-de Rosa também são clássicos de sua discografia e da psicodelia nacional.

Os Baobás
Grupo que antecipou a chegada do hit Light My Fire (The Doors) no Brasil, em gravação que contou com o futuro Mutantes e produtor Liminha no baixo. Inicialmente beat, enveredou pela psicodelia clássica "importada", que resultou na gravação do único álbum em 68, contendo diversos covers (entre eles, Oranges Skies, do Love), pelo selo Rozemblit. Também lançaram cinco compactos, com destaque para a versão de Paint It Black/Pintada de Preto (The Rolling Stones). O grupo tocou com Ronnie Von, com quem gravou um compacto (Menina Azul) e flertou com o tropicalismo, acompanhando Caetano Veloso em shows, em substituição aos Beat Boys. A primeira formação do grupo contou com Ricardo Contins (guitarra), Jorge Pagura (bateria), Carlos (baixo), Renato (guitarra solo) e Arquimedes (pandeiro). Também passaram pelas diversas formações da banda Rafael Vilardi (ex-O'Seis), Guga, Nescau, Tuca e Tico Terpins (depois Joelho de Porco).

Beat Boys
Um misto de brasileiros e argentinos radicados em São Paulo, o grupo Beat Boys ficou conhecido por acompanhar Caetano Veloso em Alegria Alegria, no Festival da Record e em disco. Integravam o grupo Cacho Valdez (guitarra), Willy Werdaguer (baixo), Tony Osanah (vocal e pandeiro), Marcelo (bateria). Toyo (baixo e teclados) e Daniel (outra guitarra). Gravou um único álbum pela RCA Victor, lançado em 68, contendo Abre, Sou Eu (Billy Bond) e covers radicais como Wake Me, Shake Me (The Blues Project).

The Galaxies
O garageiro The Galaxies era formado pelo inglês David Charles Odams (guitarra e vocal), pela americana Jocelyn Ann Odams (maracas e vocal) e pelos brasileiros Alcindo Maciel (guitarra e vocal) e José Carlos de Aquino (guitarra e bateria. Lançado pelo selo Som Maior, o álbum contém cover para Orange Skies (Love) e composições próprias, como Linda Lee, de David e Carlos Eduardo Aun, o Tuca, ex-Lunáticos, e depois Baobás, que também toca no disco.

Suely & Os Kantikus
Grupo formado pela ex-O'Seis (o pré-Mutantes), Suely Chagas, mais os guitarristas Lanny Gordin e Rafael Vilardi (também do pré-Mutantes). O grupo ganhou o Festival Universitário de São Paulo, em 1968, com a música Que Bacana. Na linha tropicalista, gravou um único compacto (Que Bacana/Esperanto), que traz Lanny em um dos seus melhores e mais radicais trabalhos de fuzz-guitar.

Brazilian Octopus
Apesar da orientação jazística, com pitadas de bossa-nova, o grupo pincelava seu som com climas tropicalistas-psicodélicos (incluindo a logotipia do nome na capa do único álbum gravado). A distorção ficava por conta de Lanny Gordin e sua guitarra fuzz e seu wah-wah em canções como As Borboletas e Momento B/8 (parceria do grupo com Rogério Duprat) Integravam o grupo, entre outros, o multi-instrumentista Hermeto Paschoal e o guitarrista Olmir 'Alemão' Stocker.

Liverpool
Com atitutude e visual "Jefferson Airplane", e responsável por verdadeiras viagens sonoras nos palcos, transitou na fronteira do tropicalismo com a psicodelia universal, secundando os Mutantes em criatividade e, especialmente, qualidade instrumental. Integravam o grupo, Mimi Lessa (guitarra), Edinho Espíndola (bateria), Fughetti Luz (cantor), Pekos (baixo) e Marcos (base). Gravou o único álbum em 69, pelo selo Equipe, contendo elaboradas canções com fuzz-guitar no talo, a exemplo de Voando, Impressões Digitais e Olhai Os Lírios do Campo. No início dos anos 70, ainda gravou mais dois compactos, um (duplo) para a trilha do filme Marcelo Zona Sul, e outro, sob o nome de Liverpool Sound, com as músicas Fale e Hei Menina. Com o fim do grupo, seus integrantes, menos Pekos, juntam-se ao ex-A Bolha, Renato Ladeira, para formar o Bixo da Seda, que retornou ao rock and roll "stoniano" das origens da banda.

Mutantes
Um dos mais importantes grupos da história do rock, não apenas nacional, mas mundial, não ficando nada a dever aos grandes ícones da revolução musical dos anos sessenta, até mesmo aos Beatles, em vários momentos de sua obra. Deixaram pelo menos três discos clássicos da discografia brasileira e, outra vez, mundial, com uma riqueza de idéias, de arranjos e de soluções instrumentais, que surpreendem até hoje, e provocam uma "redescoberta" por parte dos mais importante músicos nacionais e estrangeiros. Apesar disso, permaneceram por um bom tempo ignorados, até serem relançados ainda em vinil pelo selo paulistano Baratos Afins, em meados dos anos oitenta. São donos de uma infindável coleção de hits e, também, de um baú de raridades, que, além do já lançado Tecnicolor (originalmente gravado em setenta, mas inédito até 2000), renderiam, pelo menos, um bom cd simples.
Mutantes:
(1968) Os Mutantes
http://www.badongo.com/pt/file/1698502
(1969) Mutantes
http://www.badongo.com/pt/file/1698503
(1970) A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado
http://www.badongo.com/pt/file/1698505
(1970) Tecnicolorhttp://www.badongo.com/pt/file/1698507
(1971) Jardim Elétricohttp://www.badongo.com/pt/file/1698509
(1972) Mutante E Seus Cometas No País Dos Baurets
http://www.badongo.com/pt/file/1698510
Mutantes II:(1973) O A e o Z
http://www.badongo.com/file/1715947
(1974) Tudo feito pelo Sol
http://www.badongo.com/file/1715948
(1976) Ao Vivo
http://www.badongo.com/file/1715950
(1978) Cavaleiros Negros
http://www.badongo.com/file/1715951


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Ronnie Von
Iniciou a carreira cantando Beatles, e com seu terceiro disco, que tem participação dos Mutantes, Beat Boys e arranjos de Rogério Duprat, acabou virando uma espécie de laboratório experimental do tropicalismo. Mas sua mais importante contribiuição a história da psicodelia nacional é o o disco lançado em 68, com arranjos de Damiano Cozzela, que traz os mais radicais experimentos sonoros daquela segunda metade de década, somente igualados ou superados pelos Mutantes. É neste disco que está a clássica Silvia, 20 Horas Domingo, recentemente regravada pelo grupo gaúcho Vídeo Hits, com participação do próprio cantor. Ronnie Von ainda gravou mais dois álbuns com essa orientação: A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais e A Máquina do Tempo, o último antecipando o rock progressivo, que chegaria ao Brasil um pouco mais tarde. Atualmente, Ronnie Von tem sido alvo de um revival que, definitivamente, resgata a sua verdadeira importância na história do rock nacional.

Os Brazões
Grupo responsável por uma das melhores fusões de tropicalismo com psicodelia universal, festejada por Nelson Motta, na contra-capa do seu único álbum, lançado 70. Integravam os Brazões, Miguel (guitarra base), Eduardo (bateria), Roberto (guitarra solo) e Taco (baixo). Tornaram-se conhecidos por acompanhar Gal Costa em shows e defender Gothan City, de Macalé e Capinam, no IV Festival Internacional da Canção Popular, em 69 (a mesma que ganhou cover punk do Camisa de Vênus, nos anos oitenta). Lançaram um dos principais trabalhos da discografia psico-tropicalista, recheado de guitarras fuzz, contendo versões para clássicos como Pega a Voga Cabeludo, Volkswagen Blues e Modulo Lunar. Miguel, depois Miguel de Deus, entrou de cabeça na onda funk, gravando o álbum Black Soul Brothers (77).

O Bando
Outra banda que misturou MPB, música regional e pitadas de psicodelia. Em 69, lançou seu único álbum, com arranjos dos maestros Rogério Duprat, Damiano Cozzela e Júlio Medaglia. Em clima tropicalista, cantam Jorge Ben, Caetano Veloso e os novatos gaúchos Hermes Aquino e Lais Marques. Integravam O Bando, Diógenes, a cantora Marisa Fossa (que depois gravou com Duprat), Américo, Dudu, Emílio, Paulinho e Rodolpho.

Blow Up
Nascido em Santos, com o nome The Black Cats, começou tocando rock instrumental, passou pela beatlemania e, no final dos anos 60, acabou na psicodelia. Inspirado no filme homônimo de Antonioni, trocou de nome e gravou dois álbuns com a nova orientação: o primeiro em 69, e o segundo em 71, chamado apenas Blow Up, mas também conhecido como Expresso 21. Integravam a primeira formação Robson (guitarra solo), Hélio (bateria), Tivo (baixo e vocal), Zé Luis (vocal), Nelson (teclado) e Adalberto (guitarra base).

Os Leif's
Histórico grupo baiano formado pelo guitarrista Pepeu Gomes, seu irmão Jorginho, mais Carlinhos e Lico, que acompanhou Caetano Veloso e Gilberto Gil no show-disco Barra (69). Também foi responsável pelo acompanhamento psico-tropicalista em diversas faixas do primeiro álbum dos Novos Baianos - Ferro na Boneca (70), com destaque para a fuzz-guitar de Pepeu. Antes, formavam Os Minos, que gravou dois compactos, pelo selo Copacabana, em 67.

Som Imaginário
Outro grupo que passeou com maestria nas fronteiras da psicodelia e do progressivo com a moderna MPB e toques de jazz, produzindo clássicos do gênero como Morse, Super God, Cenouras (… "vou plantar cenouras na sua cabeça"). Integraram o grupo em suas várias formações mestres do instrumento, como Wagner Tiso (teclados), Luís Alves (contrabaixo), Robertinho Silva (bateria), Tavito (violão), Frederyko (guitarra), Zé Rodrix (teclados, voz e flauta), Laudir de Oliveira (percussão), Naná Vasconcelos (percussão) e, ainda, ocasionalmente, Nivaldo Ornelas (sax) e Toninho Horta (guitarra). Gravaram os discos Som Imaginário (70), Som Imaginário - 2 (71) e Matança do Porco (73). Os três lps foram relançados conjuntamente em cd, em 98, pela gravadora EMI, enquanto a música Super-God (do primeiro lp) foi incluida na coletânea Love, Peace & Poetry - Latin American Psychedelic Music, lançada pelo selo alemão Q.D.K Media.


Som Imaginário:

(1970) Som Imaginariohttp://www.badongo.com/pt/file/1693879


(1971) Som Imagináriohttp://www.badongo.com/pt/file/1693881


(1973) Matança Do Porcohttp://www.badongo.com/pt/file/1693882

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A Bolha
Legendária banda do rock nacional, formada em 65, no Rio de Janeiro, pelos irmãos Cesar e Renato Ladeira (guitarra e teclados), mais Lincoln Bittencourt (baixo) e Ricardo (bateria), gravou um único compacto nesta fase, com o nome The Bubbles, em 66. No final da década, assumiram o nome A Bolha e orientaram seu som para o hard rock, inicialmente, e depois para climas progressivos-psicodélicos. Em 1970, acompanharam Gal Costa na excursão a Portugal e assistiram ao festival da Ilha de Wight, na Inglaterra. Com nova formação - Renato (teclados), Pedro Lima (guitarra), Arnaldo Brandão (baixo) e Gustavo Schroeter (bateria), gravou o clássico compacto Sem Nada/18:30 (Os Hemadecons Cantavam em Coro Chôôôôô ...), em 1971, e mais dois álbuns - Um Passo à Frente (73) e É Proibido Fumar (77). O primeiro álbum já ganhou reedição em cd, que traz ainda o segundo compacto.
A Bolha:

(1973) Um Passo à Frentehttp://www.badongo.com/pt/file/1535996

(1977) É Proibido Fumarhttp://www.badongo.com/pt/file/1535997

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O Terço
Um dos mais expressivos grupos dos anos 70, O Terço transitou por todas as praias, indo do folk-rock ao progressivo, sempre com elementos psicodélicos. Originalmente formado por Sérgio Hinds, Jorge Amiden, Vinicius Cantuária, gravou dois álbuns com orientação psicodélica (o primeiro) e progressiva (o segundo). Em 75, depois de alguns compactos, e incorporando o folk e sonoridades regionais, o grupo gravou Criaturas da Noite, com arranjos de Rogério Duprat e capa de Antônio Peticov. Na mesma época, com as mesmas bases instrumentais, mas com vocais em inglês, o álbum foi lançado na América Latina e na Europa (no Brasil, saiu apenas um compacto com Criaturas da Noite/Queimada - Creatures of Night/Shining Days, Summer Nights). O Terço ainda gravou outro clássico da discografia roqueira nacional, o álbum Casa Encantada (lançado em um "dois em um" junto com Criaturas da Noite).
O Terço:

(1970) O Terçohttp://www.badongo.com/file/1689198


(1973) O Terçohttp://www.badongo.com/file/1689199


(1975) Criaturas da Noitehttp://www.badongo.com/file/1689202


(1976) Casa Encantadahttp://www.badongo.com/file/1689204


(1978) Mudança de Tempohttp://www.badongo.com/file/1689206

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Spectrum
Um dos mais raros grupos de psicodelia do Brasil, formado eventualmente pelos atores e participantes do filme Geração Bendita, dirigido por Carlos Bini e rodado em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em 1971. Denominado Spectrum, o grupo integrado pelos músicos/atores Toby, Fernando, Caetano, Serginho e David gravaram o disco Geração Bendita, com letras falando do clima do filme e da época e guitarras distorcidades. Lançado no mesmo ano, o disco é uma das peças mais raras da discografia do rock nacional, com edição apenas no exterior.

Equipe Mercado
Liderado pela dupla Diana & Stull, agitavam a cena carioca com seu rock psicodélico no início dos anos 70. Também integravam o grupo, Leugruber e Ricardo Guinsburg (guitarras, violões e vocais), Carlos Graça (bateria) e Ronaldo Periassu (percussão e texto). Participaram do show 'Betty Faria, Leila Diniz e o Mercado Na Deles', dirigido por Neville D'Almeida, com texto de Luis Carlos Maciel (editor do Rolling Stone). Participaram de coletânea ao lado de Som Imaginário, Módulo 1000 e Tribo, com a música Marina Belair.

A Tribo
Outro grupo que transitou entre MPB, jazz e sonoridade regionais, com roupagem psicodélica. Integravam o grupo os músicos Toninho Horta, Joyce, Novelli, Hélcio Milito, Nelson Angelo e Naná Vasconcelos. O grupo gravou as músicas "Kirye" e "Peba & Pebó", presentes na coletânea lançada pela Odeon, ao lado dos grupos Módulo 1000, Equipe Mercado e Som Imaginário.

Bango
Um dos raros grupos contemporâneos que demonstrou explícita influência dos Mutantes, que pode ser conferida em seu único álbum (Musidisc, 71). Som pesado, fuzz-guitar e letras viajandonas produziram um som com qualidade internacional. Seus integrantes - Aramis, Sérgio, Elydio e Roosevelt - eram oriundos do grupo carioca de Jovem Guarda, Os Canibais, autor de um ótimo disco (68), contendo covers de Turtles, Outsiders (EUA) e Turtles.

Módulo 1000
http://www.badongo.net/file/1731604

Grupo de hard-psicodélico-progressivo formado no início dos anos setenta, considerando internacionalmente um dos melhores do gênero, ao lado do também carioca Spectrum. Integravam o grupo Luis Paulo (órgão, piano, vocal), Eduardo (baixo), Daniel (guitarra, violão, vocal) e Candinho (bateria). Gravou um único lp chamado Não Fale Com Paredes, pelo selo Top Tape, em 71, e alguns poucos compactos. O lp original, incluindo a capa em três partes, foi relançado quase anonimamente pelo selo Projeto Luz Eterna (98). Em setembro de 2000, o álbum também ganhou reedição em vinil na Alemanha, novamente com reprodução integral da arte original. A música Lem Ed Êcalg (Mel de Glacê, ao contrário) ainda foi incluída na coletânea de bandas psicodélicas latinas Love, Peace & Poetry, ao lado do Som Imaginário.

Matuskela
Grupo brasiliense liderado por Anapolino (Lino), mais Didi, Toninho Terra, Zeca da Bahia e Vandão, que fez grande sucesso local no início dos anos setenta. Gravaram um lp chamado Matuskela, pelo selo Chantecler, com sonoridade folk-psicodélica, destacando-se a canção A Idade do Louco, de Zeca da Bahia e Clodo, que depois fez parte do trio Clodo, Clésio & Climério. A capa do álbum, com o grupo sentado em uma gigante mão de pedra, é outra raridade da iconografia nacional.

Damião Experiência
Autodefinindo-se como "doidão" e influenciado por Jimi Hendrix, produziu raros e surpreendentes discos, misturando psicodelia, blues, sons afro-orientais, guitarras "Frank Zappa" e letras absurdas e incompreensíveis. Lançou seu primeiro disco em 74, intitulado Damião Experiência no Planeta Lamma, que abriu caminho para outras clássicas raridades, como Damião Experiença Chupando Cana Verde no Planeta Lamma e Em Boca Calada Não Entra Mosca, Só Felicidade.

Scaladácida
Formado por Fábio (guitarra), Bartô (teclados), Sérgio Kaffa (baixo) e por Ritchie (flauta e vocais) brilhou no cenário underground paulistano da primeira metade dos anos 70. Com a maioria das letras em inglês, realizou shows sensacionais, mas não chegou a gravar. Seu integrante mais importante, antes de ressurgir nos anos 80 com Menina Veneno, ainda integrou o trio Soma e os grupos A Barca do Sol e Vímana - neste, ao lado de Lulu Santos, Lobão e Fernando Gama.

Lula Côrtes & Zé Ramalho
Em parceria, a dupla produziu a síntese mais alucinada do que se poderia chamar de psicodelia brasileira: o álbum duplo Paêbirú (O Caminho do Sol), que mistura sonoridades regionais, experimentalismo tropicalista e influência do rock internacional. Solo, Lula Côrtes gravou em 73, o também clássico Satwa, com participação de Lailson e do guitarrista Robertinho de Recife, onde repete a explosiva mistura em canções com nomes como Valsa dos Cogumelos ou Alegro Piradíssimo. Zé Ramalho, por sua vez, cinco anos depois, também lançou Avohay reverberando a já fora de moda psicodelia em canções como A Dança das Borboletas. Um álbum clássico, ainda por ser devidamente incluido entre as principais manifestações da mais radical psicodelia nacional e mundial. Exceto Avohay, os dois discos foram lançados de forma alternativa, por selos regionais.

Flaviola e o Bando do Sol
Outro representante da geração nordestina pós-tropicalismo, que teve em Paêbirú, de Lula Côrtes e Zé Ramalho, sua expressão mais radical. Também pernambucano, Flaviola e o Bando do Sul gravou apenas um álbum, lançado pelo selo local Solar, em 1974. Com base em ritmos regionais, produziram um raro mix de folk-rock-psicodelia, que permanece com extrema atualidade. Instrumental rico, na base de violões, violas, guitarras, flautas e percussão.


Soma

http://www.badongo.net/file/1692699

Trio formado pelo ex-The Outcasts, Bruce Henry (baixo), mais Jaime Shields (guitarra), Alírio Lima (bateria e percussão) e Court (vocal e flauta) - ou seja, Richard Court, o futuro Ritchie. Participaram do lp O Banquete dos Mendigos, gravado ao vivo em 1974, em comemoração dos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com a música P.F., com letras em inglês. O grupo ainda gravou mais quatro músicas, que integram a obscura coletânea Barbarella, lançada em 1971.

A Barca do Sol
Em meados dos anos setenta, a Barca do Sol botou pra quebrar na cena underground, produzindo uma refinada mistura de MPB, sonoridades progressivas/psicodélicas, instrumental quase barroco e poesia (Geraldinho Carneiro). A apresentação das músicas do lp Durante o Verão, em forma de cardápio, define o clima da Barca do Sol: O Banquete (sal de frutas, Sargent Pepper's, sopa de cabeça de bode) … Beladonna, Lady od The Rocks (cogumelos, candomblé, corações solitários) … Espécie de padrinho do grupo, Egberto Gismonti produziu o primeiro álbum, que introduzia o uso de sintetizador em duas faixas, novidade na época. A Barca do Sol gravou três discos: A Barca do Sol (74), Durante o Verão (76) e Pirata (79), os dois primeiros reeditados no formato dois em um. A Barca do Sol, entre 74 e 81, contou com Jacques Morelembaum, Nando Carneiro, os irmãos Muri Costa e Marcelo Costa, Beto Resende, Marcelo Bernardes, Alan Pierre e David Ganc, além de Stull e Richard Court, o Ritchie.

Moto Perpétuo
Liderado pelo ex-Brazilian Boys, Guilherme Arantes, que depois fez sucesso como compositor e intérprete solo, gravou um álbum com forte influência do psicodélico-progressivo na linha "Yes". Integravam o grupo, além de Arantes (teclados e vocal), Egydio Conde (guitarra solo e vocais), Diógenes Burani (percussão e vocais), Gerson Tatini (baixo e vocal) e Claudio Lucci (violão, violoncelo, guitarra e vocal). O disco tem produção de Pena Schmit.

Perfume Azul do Sol
Grupo paulista formado por Ana (voz e piano), Benvindo (voz e violão), Jean (voz e guitarra) e Gil (bateria e vocal). Com visual hippie e psicodelia derivada de ritmos e instrumental regionais, gravaram um único álbum - Nascimento -, pelo selo Chantecler, em 1974. O baixista Pedrão, depois integrou o Som Nosso de Cada Dia, ao lado do ex-Íncríveis, Manito.

Casa das Máquinas
Transitando entre o glam e o hard rock, o grupo Casa das Máquinas gravou o álbum Lar das Maravilhas (75), um clássico do mix psico-progressivo nacional. Liderado pelo ex-baterista dos Incríveis, Netinho, o Casa contava ainda com o ex-Som Beat, Aroldo Santarosa, Pisca, Carlos Geraldo, Marinho, Marinho II, Simba.O futuro vocalista do Golpe de Estado, Catalau participava do grupo, dividindo a autoria de várias canções.


Ave Sangria

Na onda da "invasão nordestina", o Ave Sangria foi uma das primeiras e mais radicais bandas, misturando sonoridades regionais, blues e rock com roupagem psicodélica. Formada por Marco Polo (vocais), Almir (baixo), Israel Semente (bateria), Juliano (percussão), contava ainda com a presença de dois grandes guitarristas: Ivson Wanderley (Ivinho), que também gravou um raro álbum de viola ao vivo no Festival de Montreaux, e Paulo Raphael, que depois tocou com Alceu Valença. A banda gravou apenas um luminoso e instigante álbum, destacando as faixas Dois Navegantes, Momento na Praça, Cidade Grande e a instrumental Sob o Sol de Satã. Lançado pelo selo Continental em 75, o álbum Ave Sangria foi reeditado em vinil em 90 (pela Baratos Afins), mas permanece inédito no formato digital. Ainda por ser redescoberto em toda sua beleza, o álbum tem uma das mais criativas capas da iconografia roqueira nacional (Sérgio Grecu e Equipe).
Ave Sangria:
(1974) Ave Sangriahttp://www.badongo.com/file/1608791
(1974) Perfumes Y Baratchos ( 28 12 1974)http://www.badongo.com/file/1608793
LINKS: Cogumelomoon 60's & 70's Brasil BandasBlog: http://cogumelomoon6070brasil.blogspot.com/


Utopia
Legenda do rock rock gaúcho, que agitou a cena local em meados dos anos setenta. Misturando sonoridades regionais, músicas árabe e folk rock, realizou shows memoráveis na capital gaúcha. Integravam o grupo Bebeto Alves - que desenvolveu carreira solo - (guitarra, viola de 12 e flauta), Ricardo Frota (violino) e Ronald Frota (violões). Deixaram apenas registros radiofônicos (na legendária rádio Continental), tendo um deles - Coração de Maçã, resgatado no cd A Música de Porto de Alegre.

Som Nosso de Cada Dia
Liderado pelo multi-instrumentista Manito, ex-integrante do grupos Os Incríveis (antes, The Clevers), o Som Nosso de Cada Dia foi um dos expontes do som psicodélico-progressivo dos anos setenta. Ao lado de Manito estavam Pedrinho (baterial e vocal), Pedrão (baixo, viola e vocal). Além de Marcinha (coro), ainda participaram do grupo Egídio (guitarra), Dino Vicente (teclados) e Rangel (percussão). O grupo gravou dois lps, Snegs (1975) e Som Nosso de Cada Dia (1976).
Som Nosso de Cada Dia:

(1974) Snegshttp://www.badongo.com/pt/file/1693884


(1976) Sábado Domingohttp://www.badongo.com/pt/file/1693885


(1975 - 1976) A Procura da Essência CD1http://www.badongo.com/pt/file/1703052


(1975 - 1976) A Procura da Essência CD2http://www.badongo.com/file/1703055


LINKS: Cogumelomoon 60's & 70's Brasil BandasBlog: http://cogumelomoon6070brasil.blogspot.com/




Veludo
Uma das legendas do hard rock-progressivo nacional, formado por volta de 1974 por Nelsinho Laranjeiras (baixo), Elias Mizrahi (teclados), Paul de Castro (guitarra) e Gustavo Schroeter (bateria). Responsável por fantásticas e longas jams instrumentais, teve um desses momentos resgatado recentemente, com o lançamento de cd contendo o show realizado no festival Banana Progressiva, realizado em São Paulo, em 1975.

Vímana
Espécie de ponte entre os anos setenta e oitenta, o Vímana brilhou na cena carioca com seu hard-progressivo. Formado em 1974, contava com Lulu Santos (guitarra), Lobão (bateria), Fernando Gama (baixo) e Ritchie (vocais). Deixaram gravado um compacto, contendo a música Zebra e participaram de discos de outros artistas, destacando-se Luiza Maria e Fagner (nas músicas Riacho do Navio e Antônio Conselheiro, do disco Ave Noturna).

Marconi Notaro
Contemporâneo de Lula Côrtes, Zé Ramalho e Lailson, Marconi Notaro gravou o LP 'No Sub Reino dos Metazoários', na linha de obras clássicas como 'Paebirú' e 'Satwa'. Lançado em 1973, e um dos mais raros da discografia nacional, o disco contém peças da mais radical psicodelia nordestina pós-tropicalista. Participam do disco Zé Ramalho, Lula Côrtes, Robertinho de Recife e outros músicos da região.

* Fernando Rosa é editor de Senhor F.
Origem do documento:
http://www.senhorf.com.br/agencia/main.jsp?codTexto=2461
Beleza, agora da para ter uma boa noção!

domingo, 14 de outubro de 2007

SOBRE EL PODER DE LA PRENSA

José Ortega y Gasset

**************
Señor director de El Sol:
Mi querido amigo: Me parece muy bien que El Sol defienda a la Prensa frente a mis elucubraciones si
cree que yo la he atacado. Todo ataque justifica no solo la defensa, sino el contraataque. Pero lo que
francamente ya no me parece tan bien es que El Sol crea en efecto o finja creer que yo la he atacado. Por
varias razones. La primera es que, deleznable o no, mi producción ha pasado casi integra por las
columnas mismas de El Sol. Son trece años de casi continuo gravitar mi prosa, a veces kilométrica, sobre
este periódico. No es un día ni dos. Al cabo de esos trece años, por fuerza tiene que haberse acusado en la
mente de los lectores, y más aún de los compañeros de casa periodística, el carácter propio a mi manera
de escribir. Y es lo más característico de ese carácter, que no he «atacado» nunca a nadie ni a nada. Desde
que comencé a escribir he procurado ejercer con rigorosa escrupulosidad mi oficio de intelectual. El
intelectual, en mi entender, ha venido al mundo nada más que para esforzarse en perseguir la verdad, y
una vez encontrada lanzarla canoramente al viento. Se puede pensar que ese menester de veracidad es
superfluo y aun funesto. Por eso, con innegable lógica, los hombres que piensan así se han dedicado de
cuando en cuando a ahorcar intelectuales. Pero lo que carece de lógica es admitir al intelectual y, al
mismo tiempo, enfadarse porque sus verdades son ásperas y considerarlas como «ataques». El caso
presente es el mejor ejemplo.
Yo he insinuado varias veces, y más enérgicamente en mi último artículo, que la situación de la Prensa en
Europa tiene que cambiar si Europa quiere salvarse.
Pongamos que esto es una opinión errónea. ¿Pero puede significar eso lo que se llama un «ataque»? La
diferencia es importante. Cuando alguien nos ataca no tenemos porqué entretenernos en sopesar
serenamente si tiene razón o no; antes bien, procuraremos colocarnos desde luego en actitud defensiva y
de represalia, dejando para otro tiempo la obligación de ser veraces. Pero solo hay ataque cuando es al
menos presumible la intención de atacar. Ahora bien; ¿quiere usted decirme qué sentido tiene que alguien,
sea quien sea, ataque a la Prensa, y no ya a la de una nación, sino a la de Europa entera? Recuerde usted
el cuento de Manolito Gázquez, en que este héroe andaluz se jacta de haber evitado por completo que le
toque una gota de agua durante un aguacero, no más que esgrimiendo contra la lluvia su florete. Atacar a
la Prensa así, in genere, seria dar una puñalada al mar o un mordisco al aire.
Es, pues, ridículo que cuando se subraya un defecto, o simplemente una limitación nativa de la Prensa, se
revuelva esta ofendida, como si fuese una persona individual o un grupo particular y definido. No,
querido amigo, la Prensa no es usted ni soy yo ni las docenas de periodistas madrileños con sus nombres
propios e inalienables: es una fuerza histórica elemental y tremenda, sobre la cual tenemos que meditar
todos, usted y yo, los periodistas madrileños y los ciudadanos de todas las naciones. Diga usted, pues, que
yo me he equivocado de medio a medio; pero no diga usted que he herido su amor propio. Yo no he visto
que el terremoto proteste porque en un periódico se diga: «El movimiento sísmico causó graves daños. Se
produjo el fenómeno porque el terreno, de índole volcánica, es poco sólido».
Otra razón que debió impedir colocarse ante mis párrafos en actitud defensiva es la ficción que el propio
editorial de El Sol emplea para contestarme. Me trata en él reiterada y acentuadamente como profesor de
la Universidad, es decir, como un extraño que desde fuera de la Prensa opina sobre ella. Con esta ficción
se gana la mitad de camino para que en efecto parezcan mis frases un ataque oriundo de una clase
intelectual -los catedráticos- émula o envidiosa del poder que goza otra clase de intelectuales -los
periodistas-. Y yo, claro está, no puedo negar que tengo algo de profesor universitario; pero reconocerá El
Sol que se me ha notado muy poco. Los veinte años de labor que he enterrado en la Universidad han
pasado por completo desapercibidos para el gran público, y yo jamás me he reclamado de ellos para nada.
Al contrario: he vivido ea la intemperie del periódico no solo como colaborador, sino como pluma
anónima. He asumido durante toda mi vida los riesgos y enojos de la profesión periodística, y además he
vivido económicamente de ella. Es, pues, vano que El Sol finja contestar a un señor que es profesor
universitario y habita la casa de enfrente. No; contesta a un periodista que tiene sobre la Prensa ideas
distintas de las suyas, y a lo que parece, equivocadas.
La diferencia también es aquí importante. Yo no comprendo por qué El Sol que está siempre dispuesto a
hacer usos nuevos cuando los viejos se muestran a las claras inaceptables, ha querido ahora seguir la
arcaica y funesta costumbre de reaccionar «por espíritu de cuerpo», y «creerse en el caso» de solidarizarse
con la totalidad de una profesión. Esto no se usa ya más que en España, y es una de nuestras lepras. Así
no saldremos nunca a alta mar, no conseguiremos que las cosas se instauren sobre un área de minina
verdad, la única capaz de sostener una mediana organización nacional. Para que una profesión se
mantenga en plena eficiencia es menester que exista siempre en ella un grupo disidente, resuelto a no
hacerse solidario m responsable de los vicios profundos que el resto del «cuerpo» cultiva y favorece. Solo
ese grupo se encontrará siempre en limpio y podrá salvar ante el público la profesión, atrayendo sobre si
el respeto y la autoridad necesarios. Es esta una idea que sostengo hace mucho tiempo. Así, en 1914 [en
Vieja y nueva política], me servía ya para fundar en ella mi anuncio de las graves malaventuras en que iba
a caer el Ejército español: «En todos los demás organismos nacionales -decía yo- ha habido individuos de
los que rinden en ellos funciones de servicio y entierran en ellos sus esfuerzos, pertenecientes en su
mayoría a las nuevas generaciones, que han tenido el valor, que han cumplido el deber de declarar los
defectos fundamentales de esos organismos En cambio, hasta hoy no conocemos críticas amplias y
severas de la organización del Ejército, y esto es un deber que se haga, este es un asunto, en que nosotros
debemos estar decididos a conseguir esclarecimiento».
Este «espíritu de cuerpo» lleva a El Sol a perder la razón contra mí, haciéndole rechazar como erróneos
hechos trivialísimos a que yo he aludido y que a todo el mundo constan. Por ejemplo, «los intereses,
muchas veces inconfesables, de las Empresas» periodísticas. Es el caso que en mi artículo se hace alusión
a este hecho tan notorio, precisamente para quitarle relativamente importancia y fijar la atención sobre las
limitaciones naturales de la Prensa, aún en el caso más puro de su ejercicio. Yo decía: «Habrían de no
obrar sobre los periódicos los intereses, muchas veces inconfesables, de sus Empresas; habría de
mantenerse el dinero castamente alejado de influir en la doctrina de los diarios, y bastaría a la Prensa
abandonarse a su propia misión para pintar el mundo del revés».
Si, pues, no se hacia cuestión de esos "intereses inconfesables», ¿qué diablo ha inspirado a El Sol la
resolución de negar que existan y tratar de rectificarme en un dato que le consta tan perfectamente como a
mí? Esto es perder la razón por no buscar el tenerla, y en vez de ello adoptar una postura inoportuna de
abogado y defensor, en vez de colaborar en el franco empeño de descubrir el verdadero puesto y oficio y
limites de la Prensa dentro de la vida europea que se avecina.
Ha hecho mal El Sol en no querer dejarme a mí ni un pico de razón, porque con ello revela que no iba
tranquilamente a discutir lo que las cosas son y deben ser, sino a defender hasta lo indefendible. No hay
verosimilitud ninguna de que alguien, sea quien sea, se equivoque tan integralmente, hasta en esos
detalles, como El Sol da a entender que yo me he equivocado.
Conozco El Sol desde su cuna. Conozco minuciosamente la actuación de su Empresa, y sé muy bien que
no solo no inspira a su periódico según intereses inconfesables, sino que, al revés, El Sol le ha servido
solo para atraer sobre los negocios particulares de sus empresarios los rayos más abusivos del Poder
público. Yo sé todo esto tan bien, ni más ni menos, como pueda saberlo El Sol mismo. Pero El Sol mismo
sabe, ni más ni menos tan bien corno yo, que ese es un caso no único, pero sí excepcional o sumamente
infrecuente en el volumen enorme de la Prensa europea. ¿Por qué entonces finge ignorarlo y me presenta
como habiendo dicho yo algo que no se ajusta a la verdad?
Esto es lo que yo llamo viejo periodismo y mal periodismo (I).
Ya indicaba en mi artículo que sobre el influjo de la Prensa en la época actual habría que hablar muy
largo si se querían poner las cosas en su punto. Yo no pretendía allí ni ahora hacerlo porque necesito estos
días escribir sobre asuntos españoles de extremada urgencia. Pero sí quiero terminar sosteniendo que el
editorial de El Sol no contesta a la tesis de mi artículo sino a otra imaginaria de que no soy responsable.
Yo no he dicho ni en un momento de obnubilación que deba arrebatarse a la Prensa el «poder espiritual»
que hoy ejerce. Yo procuro, al escribir, evitar las tonterías muy gruesas, y eso sería una de gran formato.
Menos todavía me ha ocurrido proponer que la Universidad ejerza ese «poder espiritual» que hoy
administra la Prensa. Por la sencilla razón de que la Universidad es, poco más o menos, lo contrario que
la Prensa, y no tendría sentido que quisiera ejercitar el mismo poder. No se trata de un solo poder que
convenga traspasar.
Mi tesis es sobremanera distinta; pero debí formularla torpísimamente cuando ha sido tan al revés
entendida. Lo que aspiraba a decir era esto: Normalmente han coexistido en la historia diversos «poderes
espirituales», y solo esta pluralidad de poderes diferentes y más o menos antagónicos asegura la salud
social. Esos poderes tuvieron y tienen -inexorablemente- rangos distintos, aunque todos son, en efecto,
espirituales. Hace trescientos años, por ejemplo, coexistían en Francia las influencias o presiones de
espíritu siguientes: la Iglesia, el Estado, la Universidad, la literatura (belles lettres). Pues bien:
yo pienso, acaso con error, que hoy no posee plena vivacidad más que un solo «poder espiritual» -el de la
Prensa-. Ahora bien: este es, por la naturaleza misma de la Prensa, el menos elevado de los «poderes
espirituales». Situación tal me parece funestísima. Y pido en consecuencia, no que la Prensa deje de ser
un "poder espiritual», sino que no sea el único y que sufra la concurrencia y corrección de otros. De uno,
por lo pronto: la Universidad. Se trata, pues, de la colaboración y confrontación, si se quiere hasta de la
lucha, entre dos formas de espíritu distintas, para que el hombre medio pueda recibir dos imágenes o
interpretaciones diferentes del mundo. La interpretación periodística es y será siempre la perspectiva de lo
momentáneo como tal. Por mucho que colaboren en el periódico los universitarios, la perspectiva, tono,
tendencias y modos dominantes serán los periodísticos (esta discusión es un ejemplo de ello).
La interpretación universitaria de las «cosas» es y será siempre la de acentuar en la actualidad lo no
momentáneo.
Ninguno de estos son asuntos o hechos que yo invento. Del siglo XIII al XVII -por tanto los siglos en que
«cuaja» Europa- la Universidad intervenía en la vida pública no vagamente, sino ejerciendo un poder
concretísimo, casi jurisdiccional, mediante sus dictámenes sobre los asuntos más actuales y graves de la
vida pública. Los reyes o las repúblicas tenían, quisieran o no, que contar con ella porque poseía «poder
social». Este poder social» no se concede por nadie como un título, sino que es un hecho absoluto dentro
de la sociedad y se tiene o no. Hoy la Universidad no lo tiene -ni poco ni mucho-. La prueba más
inmediata de ello es que El Sol para contestarme, supone que yo soy solo un pobre «sabio profesor» de la
Universidad, como diciendo: ¡Ahí me las dén todas!Esto es lo que no puede seguir siendo, y, ¡por Baco!,
no será. Es intolerable el imperio espiritual indiviso de la Prensa. Y yo estoy resuelto a predicar esto por
todas las provincias de España, por todas las naciones adonde sé que llega un poco mi voz, por un par de
continentes; en diversos idiomas, en variados tonos -porque es una verdad como un templo-. Y estoy
resuelto a decir mi verdad por muy áspera que sea. Porque en Europa no se puede ya respirar de pura y
total falsificación miasmática en las bases mismas de la vida pública. En cuanto a esa historia del «poder
espiritual», tampoco se trata de una simple ocurrencia mía.
Son una idea y un nombre inventados con esa ampliación de sentido cuando tenían, por fuerza, que
inventarse, a la hora en que el problema a que se refieren comenzó a ser agudo: 1830-1850: Augusto
Comte. No es, pues, un concepto vago, sino suficientemente preciso, sobre el que han pensado muchos
hombres de alta mente. Yo no tengo la culpa si se han ocupado de él muy poco los periódicos.
Coeterum censeo delendam esse Monarchiam
(El Sol, 13 de noviembre de 1930.)

(I) Peor todavía, pero por razones particulares, me parece que El Sol se crea en el caso de recordarme a
mi como era la Prensa española de hace treinta años.
Este es un desliz de orden personal sobre el cual espero la leal y espontánea contrición de El Sol.

sábado, 13 de outubro de 2007

O papel da antropologia moral ou pragmática no sistema de filosofia prática de Kant

ESTE TEXTO ACABOU NÃO SENDO APRESENTADO NO IX COLOQUIO KANT EM JUNHO DO CORRENTE ANO. ESTA E AS DEMAIS COMUNICAÇÕES ENCONTRAM-SE NO BLOG DO DANIEL PEREZ.
IX Colóquio Kant - Comunicação de Marcos Alberto de Oliveira



Marcos Alberto de Oliveira

Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)

e-mail: marlbert@ig.com.br





Resumo: O presente trabalho procura esclarecer a relação entre a antropologia moral e a metafísica dos costumes, a partir da tese de que, como parte complementar do sistema de leis éticas e do direito natural, a doutrina pragmática do homem se articula com a pedagogia, no sentido de que as observações de Kant acerca dos elementos empíricos da natureza humana tem em vista, em última instância, o aperfeiçoamento moral do homem, isto é, estabelecer as diretrizes de um amplo programa de educação, na qual as propensões naturais sejam desenvolvidas ao ponto de se consolidar uma disposição firme para o cumprimento dos deveres de virtude e de justiça. Em suma, a antropologia moral ou pragmática visa conhecer os aspectos empíricos e contingentes da natureza humana para determinar o tipo de influência, negativa ou positiva, que eles podem exercer sobre o agir segundo princípios firmemente estabelecidos, ou seja, o agir moral enquanto conseqüência necessária da estrutura formal do livre-arbítrio humano.

Abstract: The present work search to explain the relationship between the pragmatic anthropology and the metaphysics of morals, starting from the thesis that a pragmatic doctrine of the man, since counterpart of the system of ethical and juridical laws and second component of the system of practical philosophy, supplies the stuff of the pedagogy, in the sense that the observations of Kant concerning the empiric elements of the human nature take into account , ultimately, the man's moral improvement, that is, to establish the guidelines of a wide education program, in the which the natural propensities will be developed to the point of consolidating a firm disposition for the execution of the virtue and justice duties. In short, the moral or pragmatic anthropology seeks to know the empiric and uncertain aspects of the human nature in order to determine the influence type, negative or positive, that they can exercise on acting according to principles firmly established,that is, on moral acting while necessary consequence of the formal structure of the human free will.

Palavras-chave: natureza humana; lei moral; educação, dever; razão prática; liberdade; arbítrio.

Key-words: human nature; moral law; education; duty; practical reason; freedom; will.





Gostaria, nesta comunicação, de explicar a maneira como, de acordo com Kant, a antropologia pragmática se articula, no âmbito de sua filosofia moral, com a metafísica dos costumes. Com esse propósito em vista, procurarei identificar o objeto, os problemas e os procedimentos de resolução pertinentes a uma investigação sobre o homem tal como conduzida por Kant nos quadros de sua filosofia da razão pura.

Segundo o filósofo alemão, todo conhecimento humano é ou racional ou histórico. Este último “consiste em cognitio ex datis” (KANT, KrV, B 864), isto é, não se baseia em princípios válidos objetivamente, sejam empíricos sejam a priori, mas, ao contrário, pressupõe unicamente ilações da faculdade de julgar reflexionante, a analogia e a indução, que são, segundo Kant, “presunções lógicas ou então ilações empíricas” (KANT, LJ, # 84), cuja validade é apenas subjetiva (KANT, Op.Cit., # 81).

Já o conhecimento racional é um conhecimento segundo princípios (cognitio ex principiis) constitutivos do entendimento (quando teórico) e da razão (quando prático). Ele é matemático se obtido mediante a construção de conceitos na intuição sensível pura, isto é, através de conceitos produzidos a priori. Ao contrário, é filosófico, se sua aquisição se dá mediante tão-somente a análise de conceitos dados, seja a posteriori – caso em que se trata de um conhecimento racional empírico – seja a priori – neste caso, o conhecimento filosófico é um conhecimento racional puro.

Portanto, matemática e filosofia pura, isto é, metafísica, são conhecimentos que só podem ser obtidos com o emprego da razão e do entendimento puros, isto é, com a solução de problemas cuja fonte são estas duas faculdades cognitivas superiores do homem. Daí o fato de elas consistirem em sistemas doutrinais de juízos sintéticos a priori e daí, também, suscitarem a questão básica de como são possíveis (decidíveis) tais juízos, a qual só pode ser respondida preliminarmente num sistema de crítica, que sustenta a tese de que tal possibilidade repousa na referência a um domínio sensível qualquer de objetos.

Juízos matemáticos possíveis são aqueles determinantes das condições formais de nossas intuições sensíveis, vale dizer, das relações que a imaginação pura produz no tempo e no espaço. Conforme se refiram à liberdade ou à natureza, juízos sintéticos a priori da filosofia podem ser, respectivamente, ou práticos ou teóricos, Estes são possíveis se determinantes das condições formais dos fenômenos, isto é, da estrutura geral da experiência e seus objetos. Aqueles, porém, determinam as condições formais de ações livres e, por conseguinte, as condições de possibilidade dos juízos morais, que tem por objeto essas ações.

De acordo com isso, a possibilidade ou decidibilidade dos juízos morais depende, antes de mais nada, de que ações livres sejam determináveis por princípios constitutivos da razão pura e realizáveis por uma vontade a estes submetida. A possibilidade de determinar uma ação como livre equivale, segundo Kant, a representá-la como um dever, isto é, como uma ação objetivamente necessária. Ora, a necessidade objetiva de uma ação decorre da capacidade de a máxima correspondente ser universalizável, ou seja, concordar com o que ordena incondicionalmente o imperativo categórico, princípio prático, formal e único da razão pura. Portanto, são possíveis todos os juízos morais que propõem máximas suscetíveis de universalização, isto é, de se converterem em leis de uma vontade que só é capaz de ser movida ao cumprimento do dever e, em conseqüência, de agir livremente, na medida em que também é capaz de ser motivada tão-somente pela razão pura e seu princípio constitutivo.

Trata-se, aqui, da vontade de qualquer ser racional finito, que como tal é capaz de conhecer o dever, mas incapaz de realizá-lo, se as leis morais não se impuserem incondicionalmente sobre sua vontade, isto é, se elas não se lhe apresentarem como imperativos categóricos e se a razão pura, em conformidade com seu princípio constitutivo, não produzir efeitos sobre o sentimento, tornando sensível a própria idéia do dever. Daí porque, segundo Kant, o sentimento moral perfaz o domínio sensível que resulta da atividade sintética de uma razão pura efetivamente prática e por força do qual somente os deveres podem ser realizados por uma vontade submetida a leis da liberdade.

Desse modo, o sistema de crítica da razão prática em geral, enquanto investigação propedêutica da possibilidade dos juízos morais, tem por tarefa básica apresentar, com base na atividade sintética de uma razão pura efetivamente prática, as condições formais necessariamente pressupostas pelas ações livres de um agente cuja vontade é finita.

Nessa perspectiva, uma ação livre é possível se sua máxima for universalizável e, como lei do dever, se constituir num princípio por si mesmo (isto é, independentemente do conteúdo e, por conseguinte, tão somente como imperativo categórico da razão) determinante da vontade de qualquer ser racional finito. Juízos que propõem máximas universalizáveis, ou seja, leis morais, são ditos não apenas possíveis mas mesmo objetivamente válidos.

A metafísica dos costumes seria, então, o sistema doutrinal desses juízos morais resultante da aplicação de máximas universalizáveis ao conceito empiricamente dado de natureza humana, sistema, portanto, composto de juízos éticos e jurídicos conforme as máximas universalizáveis sejam propostas como leis, respectivamente, da virtude e da justiça.

Da mesma maneira que, na metafísica especial da natureza corpórea, a matéria só pode ser objeto de percepção se encerrar em si uma propriedade a priori, a saber, o movimento, sem o qual ela não poderia agir causalmente sobre os sentidos externos, também a natureza humana, na metafísica dos costumes, só pode ser dada ao sentido interno se este for afetado pela própria atividade do sujeito, isto é, se a vontade for auto-afetada e, portanto, livre. O que significa dizer que a natureza humana, analogamente aos objetos que se apresentam no espaço, possui uma propriedade a priori, que é a liberdade da vontade enquanto auto-determinação do sujeito pensante, propriedade sem a qual seria impossível a própria apercepção empírica.

Dito isso, fica clara a afirmação de Kant de que a tarefa geral da metafísica dos costumes é mostrar as conseqüências da aplicação das leis morais universais, ou seja, determinantes a priori da vontade de seres racionais finitos em geral, à natureza particular do homem, que, além de finito, é não-santo, quer dizer, já propenso a violar o dever em função das condições empíricas de sua natureza. Em outros termos, a metafísica dos costumes estabelece as condições a priori da possibilidade de uma sistema doutrinal de leis do exercício, externo e interno, do livre-arbítrio humano, isto é, as condições objetivas sob as quais deveres éticos (de virtude) e jurídicos (de justiça) são exeqüíveis por agentes racionais finitos cujos arbítrios, além de, em seu uso externo, estarem expostos ao perigo de se anularem mutuamente, também agem internamente pela representação de fins contingentes que decorrem das determinações empíricas da natureza humana. Exeqüibilidade aqui significa apenas que atos internos e externos de livre-arbítrio podem ser realizados somente por agentes humanos cuja natureza seja constituída a priori por uma legislação prática da razão pura.

Resta, pois, à antropologia moral ou pragmática, enquanto “contraparte de uma metafísica dos costumes” e “segundo membro da divisão da filosofia prática em geral”, a tarefa de fornecer um conhecimento teórico, tão completo e rigoroso quanto possível, dos elementos empíricos que perfazem a natureza humana, isto é, as condições a posteriori (subjetivas) inextricavelmente atreladas ao efetivo cumprimento do dever, de modo a determinar se, e em que medida, essas condições favorecem ou dificultam atos de livre-arbítrio. Ao contrário da antropologia física, a antropologia pragmática é um conhecimento teórico do homem a serviço do prático: trata, é certo, de conhecer o homem como membro da natureza e, portanto, de saber o que esta fez dele, mas tão-somente para destacar o que, nele, é ou só pode ser fruto de sua liberdade, o que equivale a estabelecer as bases de um amplo programa de educação, isto é, da arte de “desenvolver proporcionalmente as propensões naturais (Naturanlage) e desfraldar a humanidade a partir dos seus germes e fazer com que o homem alcance a sua determinação (Bestimmung)” , isto é, a “perfeição (Vollkommenheit) de que a natureza humana é capaz” (KANT, Über Pädagogik, A 11-12).



É evidente, pois, que a articulação da antropologia moral com a metafísica dos costumes ocorre em função da pedagogia entendida como doutrina da educação, isto é, da arte de desenvolver todas as propensões da natureza humana de modo que esta atinja a perfeição e, por conseguinte, seja completamente determinada. Uma vez que a completa determinação do homem, segundo Kant, corresponde à tarefa prática de submeter a liberdade da vontade a leis morais, isto é, de realizar o fim essencial e último da razão humana, aquelas propensões naturais a serem desenvolvidas pela educação são em si mesmas todas propensões para o bem, pois já se constituem num “dever do homem” o “tornar-se melhor, o educar-se e, se é mau, o produzir em si a moralidade” (KANT, Op.Cit., A 13). Em suma, a tarefa mesma da educação é desenvolver as propensões naturais do homem ao ponto de ele poder fazer um uso completo da razão e, por conseguinte, deixar que esta legisle sobre sua experiência prática, cognitiva e afetiva, de tal modo que ele não participe “de nenhuma felicidade ou perfeição senão daquela que ele proporciona a si mesmo, livre do instinto, por meio da própria razão” (KANT, Idee, 3ª proposição).

As propensões naturais do homem são, como ser vivente, a propensão para a animalidade, como ser vivente e ao mesmo tempo racional, a propensão para a humanidade, como ser racional e ao mesmo tempo suscetível de imputação, a propensão para a personalidade. Desenvolver a primeira é submetê-lo à disciplina. Trata-se da parte negativa da educação, na qual se procura “impedir que a animalidade prejudique o caráter humano, tanto no indivíduo como na sociedade,” isto é, “domar a selvageria” (Über Pädagogik, ). Uma vez postos sob controle racional o instinto de conservação, o impulso sexual e a tendência gregária, enfim, postas as rédeas em nossa liberdade sem leis ou desenfreada, pode entrar em cena a parte positiva da educação, a saber, a formação (Bildung). Esta, por sua vez, é ou cultura propriamente dita, isto é, formação escolástica, quando está em jogo o desenvolvimento de nossas faculdades cognitivas e habilidades técnicas, ou formação pragmática, se se trata do cultivo de nossa propensão natural para a humanidade, ou seja, para dentro da sociedade exercer influência sobre os outros (o que coloca os indivíduos numa situação de extrema rivalidade), ou formação da personalidade (cultura moral). Enquanto esta visa cultivar o caráter, isto é, o sentimento moral, de modo que se transforme em hábito constante o querer agir somente conforme e por respeito a máximas universalizáveis e se consolide numa firme disposição (virtude ou intenção moral) o fazer dessas máximas um fim objetivamente necessário do nosso arbítrio, a formação pragmática é a cultura da prudência, isto é, a formação política, de modo que se consolide entre os cidadãos algo como um senso de justiça, por força do qual se pode esperar que eles não sejam refratários às leis do seu país e que, cumpram os seus deveres jurídicos, não obstante a rivalidade que inevitavelmente se instala na vida social por conta do afã de honras, domínio e riqueza.

A “Antropologia de um ponto de vista pragmático” se compõe de duas partes: a didática e a característica antropológicas. A primeira visa conhecer, em sua unidade arquitetônica, a multiplicidade de elementos que se apresentam, direta ou indiretamente, à consciência de si empírica ( o “eu observado por si mesmo” ou apercepção empírica), mas que pressupõem e formalmente se articulam com a consciência de si intelectual enquanto poder absoluto da alma humana de referir representações a objetos ou de ser afetada por estes através de representações (a apercepção pura que subjaz à apercepção empírica). Trata-se, portanto, de determinar se, e como, aqueles elementos empíricos se conformam com a liberdade transcendental enquanto fundamento da unidade formal do sujeito pensante, isto é, das faculdades de conhecer, desejar e sentir prazer e desprazer, na medida em que a atividade representacional da primeira encontra-se à base do exercício das duas últimas.

A característica antropológica, por sua vez, procura conhecer o interior do homem a partir dos sinais exteriores, isto é, conhecê-lo em seu caráter, considerando-o em cinco níveis: individualmente, como pessoa; em vista da geração e do cuidado da prole, como sexo; na vida gregária, como povo; domesticamente, como raça, e por fim, na totalidade dos indivíduos, como espécie. Trata-se, portanto, de um conhecimento concernente à faculdade de desejar enquanto esta produz efeitos práticos (ações) no mundo sensível.

Como se vê, a antropologia moral é uma teoria pragmática das ações humanas como fatos, no domínio dos fenômenos, da razão prática pura, ações essas que são interpretadas como efeitos do efetivo cumprimento do que ordenam as leis morais da metafísica dos costumes. Assim entendidas, as ações engendradas pelo livre-arbítrio do homem podem ser tomadas como exemplos (Exempels), conforme os quais os casos particulares de uma lei ética são apresentados como prova, não empírica, de que ela pode vigorar na conduta do homem ( mesmo estando este submetido a condições empíricas adversas) ou, o que é equivalente, vigora a priori no domínio sensível da intenção moral, em poucas palavras, de que é humanamente possível realizar aquilo que se sabe ser um dever . Desses exemplos, se serve a metodologia ética, tanto a didática, no que concerne ao fortalecimento do senso daquilo que em si mesmo é bom e justo, quanto a ascética, com vistas à purificação de nossas intenções com relação à prática do dever. Tais exemplos envolvem conhecimentos antropológicos, na medida em que determinar se uma ação se constitui num fato da razão prática pura e, por conseguinte, num caso particular de dever de virtude, só é possível mediante o conhecimento do peso dos obstáculos empíricos à pura intenção moral, pois os efeitos da liberdade no mundo sensível nada mais são do que “ações que, de acordo com os preceitos morais, poderiam ser encontradas na história do ser humano”, e “já que a razão ordena que tais ações devem ocorrer, elas também tem que poder ocorrer” (KANT, KrV, B 835).

Para concluir, vou ilustrar o modo como Kant procede na antropologia moral com um tópico referente ao temperamento (Temperament) como parte do caráter (Charakter) da pessoa, que inclui também o que lhe é naturalmente característico (Naturell) e o caráter propriamente dito ou índole moral (Charakter als der Denkungsart). A questão aqui é saber até que ponto o temperamento exerce influência no cumprimento do dever, isto é, favorece ou dificulta a receptividade para a lei moral como motivo suficiente por si de determinação da vontade. Segundo Kant, o temperamento diz respeito ou ao sentimento, caso em que temos o tipo sangüíneo e o tipo melancólico, ou à atividade, dividindo-se em colérico e fleumático. Desses quatro temperamentos, cada um dos quais pode ter predominância no tipo psicológico de um indivíduo, o melancólico é o mais propenso a agir por princípios e, portanto, a ter caráter. E isto ocorre, diz Kant, “não por causas morais (pois aqui se fala dos móbeis sensíveis), senão porque a contrariedade lhe é inconveniente e precisamente por isto o faz solícito, desconfiado e escrupuloso, mas também incapaz de sentir alegria” (KANT, Antropologie, B 258/259). Ao contrário, o tipo sangüíneo, porque volúvel, frívolo e afeito ao jogo social, é o mais refratário “a determinados princípios práticos que se tem prescrito imutavelmente por meio de sua própria razão” (KANT, Op.Cit., B 264), vale dizer, aquele cuja vontade é movida mais facilmente pelo sentimento patológico do que pelo sentimento moral, enquanto capacidade de sentir respeito por princípios práticos da razão, mesmo que estes, acrescenta Kant, “possam as vezes ser falsos e defeituosos”, já que o que conta é “o aspecto formal do querer em geral, agir segundos princípios firmes (e não andar saltando daqui para ali como em um enxame de mosquitos) (...), algo em si estimável e inclusive digno de admiração, assim como também coisa rara” (KANT, Ibidem).

Não cabe à antropologia pragmática, portanto, limitar-se a um discurso teórico sobre esse e outros assuntos concernentes à natureza humana, o que, de acordo com Kant, “é pura perda”, pois as observações antropológicas são, de um ponto de vista pragmático, destinadas a determinar o que, na natureza humana, é “favorável ou prejudicial” ao seu aperfeiçoamento e, portanto, devem ser empregadas, no âmbito da pedagogia, para a disciplina e formação do homem, especialmente a formação da personalidade, isto é, do caráter.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



KANT, Immanuel (1784): Idee zu einer allgemeinen Geschichte in weltbürgerlicher Absicht , Band 9, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.



________________(1787): Kritik der reinen Vernunft (B), Band 3 und 4, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.



________________(1788): Kritik der praktischen Vernunft, Band 6, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.



________________(1797): Metaphysik der Sitten, Band 7, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.



________________(1798): Anthropologie in pragmatischer Hinsicht, Band 10, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.



________________(1800): Logik, Band 5, Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.



________________(1803): Über Pädagogik, Band 10, Darmstadt: Wissenschaftliche

Texto de José Guilherme Bandeira

É claro que nem só da espuma dos dias se ocupa o leitor com propensão a
colunista.
Não!
Ele entra em contradição com a opinião publicada. O próprio colunista.
Encartado. Sério. Não um falseado. Espúrio. Como eu…
Mas lá está… a “Atlântico” não tem uma página de opinião de
“leitores” - ou de gente que compra a revista só mesmo pelas cores
catitas da capa e para irritar a larga maioria dos conhecidos que daí para a
frente lhe chamam “aquele sacana fascista” e que, eventual e
casuisticamente, lê realmente uma ou outra linha lá pelo meio, regra geral, a
banda desenhada dos dedos”. Não conheço ninguém nesta categoria. Lá está,
porque só me conheço a mim que leia esta revista. E eu sou um “leitor”.
Dos verdadeiros. Daqueles que dobram a parte superior da página quando se
deparam com mais uma tirada pungente do João Pereira Coutinho. Ou um acerbo
certeiro do Henrique Raposo. Para ficar por um par. Para reler mais tarde e
retirar aquele gostinho especial que só os predestinados propiciam.

Desta vez também dobrei a página. Infelizmente foi porque fique a espumar da
boca (não de “Raiva “- a dos corpúsculos de Negri; mas de “raiva” no
sentido de “grande cólera - diz-me o meu dicionário da “Porto
Editora”. E cá me atiro à liça. Comentar um comentador. Numa revista sem
secção de “Leitores” e só com um e-mail para uma edição “on-line”.

Vai ter que ser mesmo para aí…

Espumo eu, então, da recensão, da “Atlântico” de Agosto, ao
“canhânho” de Sam Harris, “O Fim Da Fé”. Se a crítica publicada,
oficial, é positiva, então a minha é negativa. Terrível. Jihadista.
Perdão, cruzadista. E, por tabela, leva também o crítico. O troar ouvido é
definitivamente de um canhão…
Enquanto afio a baioneta, afinal e estamos em “guerra”, palavras do
“cientista-filósofo” (Rir!!!) seguem os vitupérios; o desafio para o
duelo (ao pôr do sol, porque embora “fundamentalista”, não sou
destituído de todo o sentido estético) será objecto de missiva posterior.

De Dawkins, a Dennett, Harris e Stenger ou Sagan, todos com livros com títulos
bem “batidos”, de que é exemplo “Como a ciência demonstra que Deus não
existe” de Stenger. Estranho. Ignoram a inacessibilidade Kantiana, logo à
partida, a demonstrar a existência ou não de Deus. (Fazem-me aqui lembrar uma
luminária que num debate por alturas do referendo ao aborto nutria especial
caridade pelo “livre-arbítrio da Mulher”. Apelo daqui ao mestre que após
a resolução da 3.ª aporia - infelizmente apenas para metade da Humanidade
- se volte para as primeiras. Estou certo que serão solucionadas com idêntica
elegância.)
Bem, o vestígio de honestidade que me percorre ainda o corpo leva-me a conceder
que eu também.
Sou Católico. Não Pietista, como Kant.

No entanto, enquanto demonstram que Deus não existe, desconsideram à partida,
a possibilidade contrária. Um exemplo de abertura intelectual. E
imparcialidade.

Para ser minimamente sólido teria que prolongar-me por páginas e páginas. No
entanto, não estão já escritas “páginas e páginas”, mas “bibliotecas
e bibliotecas” por algumas das maiores mentes da História da Humanidade sobre
aquele que é, afinal, o sumo problema existencial…

No entanto, estou certo que nunca Dawkins, ou Harris ou nenhum dos outros, leu
páginas e páginas. Concedo que talvez parágrafos e parágrafos. Vá lá,
frases e frases… Entre si…
Pois então a tonalidade de irreverência e ignorância adolescente teria que
ter sido arredada da pena dos ditos.

Na interpelação de Terry Eagleton a Dawkins: “Quais são os seus pontos de
vista sobre as diferenças epistemológicas entre Aquino e Scoto? Leu Erigena
sobre a subjectividade, Rahner sobre a graça ou Moltman sobre a esperança?
Alguma vez ouviu falar deles?”

O nosso zoólogo tudo explica com o simples recurso epistemológico à sua
área. Nem um passo além. A religião é um mero “meme”. Informação
codificada em padrões cerebrais. Cultural. Um “vírus” que se reproduz de
geração em geração com o mero intento de se eternizar. Para isso
estimulando a desconfiança ao “estranho”, ao “outro”. No limite, o
ódio a “memes” competidores. Altruísmo para dentro, implacabilidade para
fora.
O provincianismo é sufocante.

Ou Sagan, que analisando a reflexão teológica de Aquino e a doutrina das
impossibilidades divinas, nota que Lobachevski e Bolyai criaram, em espaço
curvo, um triângulo com uma soma de ângulos internos diferente de 180º! Um
génio. Provavelmente com acne… Mas afinal um homem não fez aquilo que Deus
(ou o que a “Theologia” arguia que…) não podia? Não! O que a teologia
defende é que Deus, em espaço euclidiano, plano, que era o único conhecido
para os medievais, não pode criar tal triângulo. Porquê? Porque é absurdo.
Lembra a falácia do menino de escola contra a existência de um Deus
omnipotente; pode Ele criar uma pedra tão pesada que Ele próprio não a pode
levantar? Ou Sagan sabendo o que escrevia foi intelectualmente desonesto ou
não percebeu nada do argumento. Qualquer das alternativas é inquietante.

Harris, como surge na recensão, sustenta que a Fé obscurece a incerteza e que
o manifestamente falso tem a primazia sobre os factos.
A fazer eco da sentença de alguém que definia a Fé como crer em algo que
qualquer idiota sabe que é falso.

Repare-se que mesmo aqui qualquer reflexão séria não pode permanecer saturada
de uma tal linearidade. Desde o aforismo “Creio, porque é absurdo”,
presente em Kierkegaard; passando por Pascal “É o coração que sente Deus,
não a razão.”; até chegar àquele que é talvez o maior teólogo do séc.
XX, Karl Barth e à sua doutrina da total corrupção da natureza humana, como
tal incapaz de balbuciar o que for sobre o Absoluto (Barth escreveu que
qualquer “Prova” da existência de Deus é tão mais demoníaca quanto mais
perfeita for) dá-se eco a uma postura filosófica, o Fideísmo, que ainda hoje
é constitutivo do Cristianismo Protestante.

Como disse atrás isto não sucede na teologia Católica, na qual, desde Aquino,
na sua “Summa Theologica” estabelece que só o uso da razão natural, sem
ser necessário recorrer à Revelação, é suficiente para alcançar a
necessária postulação do Próprio Ser - Deus. Sendo que, rigorosamente,
tal disposição se pode traçar até S. Paulo.

Não obstante, o incómodo mais flagrante nesta afirmação é que está exangue
de um positivismo epistemológico. Definido por Ambrse Beirce como uma filosofia
que nega o nosso conhecimento do Real e afirma a nossa ignorância do aparente.
Limitando o alcance do conhecimento humano aos fenómenos dos quais temos
percepções sensoriais directas. Comte, o seu grande expoente, não acreditava
em átomos, ridicularizava a descoberta de Neptuno ( “pseudo-descoberta que
não tem interesse para lá dos habitantes de Urano”), pensava não haver
maneira de avaliar a composição química das estrelas (é feito por análise
espectral). Tudo isto levou a um efeito pernicioso histórico sobre o
desenvolvimento da ciência na zona globo sobre a qual se focalizou (bacia do
Mediterrâneo).

Uma teoria científica não é meramente positivista. Instrumentalista. O
positivismo segundo o seu próprio critério, que só conjecturas que descrevem
ou prevêem observações têm significado, é sem sentido.
Uma teoria científica sendo essencialmente explicativa (porquê e como é que
algo acontece assim e não de outra maneira) também prevê, verdade. Mas tais
previsões são muitas vezes chocantes para o senso comum, para a nossa
experiência quotidiana. Pensem na sentença einsteiniana de que um corpo em
velocidade arbitrariamente próxima da luz se contrai até espessura zero, a
sua massa aumenta sem limite e o tempo é dilatado até parar. Qual é a
experiência quotidiana que é paralela a isto? É uma extrapolação
injustificada, então? Não, porque é requerido pela consistência da nossa
melhor teoria científica para corpos em movimento, a Relatividade Restrita.
Qualquer teoria científica emprega um uso de “fé”, de vontade de a testar,
mesmo caso tenha consequências contra-intuitivas, e tirar proveito dela.
Pode inclusive prever que não pode prever, remetendo-nos para um ambiente
completamente estranho á nossa experiência ( e logo a qualquer “facto”)
como sucede no centro de buracos negros, no Big Bang e no Big Crunch.
A postura que Harris expõe é castradora do desenvolvimento científico pois
não permitiria, se levada às suas consequência lógicas, testar e estender
as nossas melhores teorias científicas. (David Deutsch, “The Fabric of
Reality”)

Mais, o iluminado Harris quando escreve “…enquanto se aceitar que uma pessoa
acredite…”, mas…realmente estou a ler isto numa revista conservadora?! A
cedência a tendências de engenharia social “top-down” , a aversão à
existência a formas de vida descentralizadas e a “parcelas” de vida que se
estendem para lá do emprego ou de outros constituintes oficiais, como a
família e a religião e que se tornam alguns dos maiores pólos de
realização pessoal, é nada mais que o prenúncio do “evaporar da liberdade
pessoal”. Não por acaso as autocracias nutrem particular aversão pelos
“tempos livres”, que naturalmente escapam à sua obsessão controladora. E
por estas formas de organização social espontânea. Não por acaso a
religião era perseguida ou controlada na URSS, no III Reich, na China
Maoísta… e o Cristianismo foi substituído no seguimento da insanidade da
Revolução Francesa pelo culto do Ser Supremo (Deísta). Não por acaso,
Rosseau e o seu mito do “Bom Selvagem” levou a Marat e Robespierre. (quanto
a isto, natural vs. cultura, franqueza ou genuinidade vs. condicionamento, que
era, enfim a noção rousseniana de perversão do mundo civilizado, não vale a
pena mencionar quantas vezes já foi desmitificado. O Homem não é naturalmente
Bom, sendo corrompido pela Sociedade. Estranhamente esta visão surgirá,
mutada, mais abaixo!).

Já agora, não sei se da lavra do responsável pela recensão, surge uma
alocução ao senso-comum. E, enfim, se a Religião não lhe é uma
contradição. Digo-lhe que, sinceramente, espero bem que sim! Não por acaso,
no prefácio d’”Os Problemas da Filosofia” de Bertrand Russel é escrito que
a filosofia é não em pequena parte a confrontação do senso comum com o bom
senso. Deutsch e Paul Davies escrevem que as melhores teorias científicas não
são só empiricamente mais fiáveis, mas fazem muito mais sentido que o
“senso comum”. Um exemplo é o fluxo temporal. O “senso comum” sustenta
que “o tempo flui” ou “nós nos movemos no tempo”. Claramente
contraditórias. Mas nada disto faz sentido. O tempo não flui. O espaço-tempo
é tido como um bloco sólido, sem fluxo ou movimento. É por isso que o
Livre-Arbítrio, na perspectiva da ciência moderna, só é ontologicamente
viável num Multiverso, ou seja, numa interpretação da multiplicidade dos
mundos.
O senso-comum supõe que a Terra é quadrada, que o Sol se movimenta em torno da
Terra e que as constipações são causadas pelo frio!

Há outro deslize que não posso deixar passar em branco. O de que a Fé só
surge quando se subtrai a racionalidade, a coerência interna, a civilidade e a
franqueza. A referência à civilidade e à franqueza não passam de uma
provocação. Supõe-se que um teísta é embrutecido e dissimulado. Desumano.
Valerá a pena, enfrentar os rigores de ter que repetir, até à náusea, que a
habitual consideração de um “Humanismo”, na linha de um Mário Soares,
não passa de Marxismo, sob uma máscara mais benévola? Bergson denunciou a
necessária distinção entre um Humanismo Aberto, por a sua essência repousar
na conexão entre o Homem, enquanto elemento central da criação, e o Absoluto;
e um Humanismo fechado. Ou, paralelamente, a destrinça Existencialismo Aberto
ou Fechado. Um representante desta última corrente era Sartre. Estou certo que
ninguém aqui cantou louvores ao passeio dos tanques soviéticos em Praga. (Ou
chamou “canalhas” a todos “os de direita”.)

Quanto à racionalidade e coerência interna…
Qualquer teoria científica tem que cumprir dois pressupostos. Ser logicamente
consistente e estar de acordo com os dados experimentais (isto foi relembrado
pelo Paulo Tunhas há um punhado de meses atrás). Também tem que ser
falsificável, ou seja, não ser meramente explicativa, mas “correr
riscos”, ou seja, preditiva. Por isso uma teoria, por absurdo, do Universo
construída a partir da altura das pirâmides não é científica.
A Pedra da Roseta (desde a Antiguidade Clássica, nomeadamente os Pitagóricos,
até exemplos modernos como Einstein e Hawking, p. ex.) é saber se a
consistência matemática aliada à necessidade de correlação à quantidade
imensa de dados empíricos disponíveis requer uma solução única. O conjunto
de soluções seria singular. Ou seja, a restrição a uma só conjectura,
nomeadamente o Universo actual. Isto constituiria o Universo - que
compreenderia todas as histórias fisicamente possíveis; o que reforçaria o
seu estatuto de singularidade, pois o que mais poderia ser real? - como
Necessário. Panteísmo?! Não! Panenteísmo. Pois a Imanência só pode
decorrer da Transcendência.
A meditação teológica é análoga à científica. Decorre da consistência
lógica e do acordo às fontes Reveladas. A consistência é de natureza
filosófica, por ex., um “milagre” não pode ser uma violação das leis
naturais ou seguir-se-ia a crítica de Hume; a destrinça fina entre
“tempus”, “aevum” e “aeternitas” implica uma subtileza necessária
em considerandos sobre a Liberdade Divina; a tomada em consideração da total
profundidade filosófica de conceitos como “essência”, “existência”,
“ser”, “ente”, “acto”, “potência”, leva a que, por exemplo,
Deus, sendo “O Ser” nunca pode deixar ou começar a ser, logo não
“existe”, ou seja, Deus é, mas não existe; Deus não é ente, mas o
próprio Ser pelo qual todos os entes existem; Deus é o Existente Subsistente
no qual a essência se confunde com a Existência, ou seja, é Aquele para O
qual a essência é existir; Deus é acto puro de ser, completa e
permanentemente actualizado, sem sombra de passividade, ou seja, em Deus não
há vestígio de “potência”…

Isto foi um curto intróito, até porque os interessados facilmente encontrarão
fontes de muito maior talento do que eu, que lhes poderão fornecer um retracto
mais global da riqueza infindável que é, afinal, reafirmo, o principal
problema existencial com o qual o Homem se debate.

Billot chamou a atenção para a necessidade de discernir entre adultos de idade
e de razão. Não quero com isto significar que todos os ateus ou agnósticos
são débeis mentais. Era ridículo. Mas não menos que a invectiva de Harris
sobre a Racionalidade e a Fé.

Quanto à “fonte de violência mais prolífica da História”, os mortos
pululam em lados sortidos. As duas grandes doutrinas totalitárias do sé. XX
eram militantemente ateias (na verdade, o Marxismo parece-me um crasso
Panteísmo, mas indubitavelmente anti-cristão).
A própria Inquisição tinha uma matriz eminentemente revolucionária, logo
materialista, se se quiser, ateia. Instrumento de combate inter-classissista
(nobreza vs. cristãos-novos).

E quanto aos malefícios civilizacionais da religião?

A concepção hodierna de Leis da Natureza teve a sua matriz no Ocidente,
derivada do monoteísmo judaico-cristão, facto notado por Alfred Whitehead. A
fé em regularidades naturais só pôde sobrevir do conceito de uma Divindade
Criadora, Una, Conservadora (no sentido de conservação na existência dos
contingentes e não no político), Racional e Eminentemente Bondosa.

O Livre-Arbítrio só passou a ser considerado doutrinalmente no “caldo”
sociológico da Cristandade. Só aí noções clássicas de “fattum”
estavam definitivamente ultrapassadas. Só aí se reconhece o “fórum
íntimo”, o espírito que “constitui a fulcralidade decisiva do juízo
livre e responsável do ser humano” (ver ensaio de Ramalho Eanes na “Nova
Cidadania” de Abril/Junho).

O próprio conceito de lei e direito Natural, tão brilhantemente usado por
Henrique Raposo como charneira da ética política conservadora, é esta a
exegese que lhe faço, é derivada da natureza racional do Homem antes de todo
o acto positivo de um legislador. Provém, historicamente, com força real se
se for crente, metaforicamente caso contrário, de Deus, como supremo
legislador de toda a ética criada. É então lei eterna que advém do acto de
sabedoria e da vontade criadora e ordenadora de Deus.

Penúltimo parágrafo para chamar a atenção que grande parte da tese é
desbaratada pelo curto artigo de André Azevedo Alves, 17 páginas atrás.
Último parágrafo para relevar que aguardo impacientemente que o livro de Frank
Tipler, que está em vésperas de ser publicado por terras “tugas”, também
ele seja objecto de recensão. Positiva, já agora!

Um Post-Scriptum para comunicar à malta da Atlântico, e depois da aziaga
mensagem acima, que continuem o bom trabalho a chamar a atenção que há
alternativas à ideologia marxista e derivadas. Pra lá do folclore
bloco-esquerdista, do cristalizado PCP ou do tele-ponto socialista subsiste
algo, nomeadamente o bom senso.

Um abraço!

José Guilherme Bandeira

Savez vous vraiment ce qu'est le libéralisme ?


par Jacques de Guenin

(Exposé fait à Bayonne, Bordeaux, Dax devant divers auditoires)

Je précise tout de suite que je ne vais pas parler de politique : ma brève incursion dans le monde politique m'a appris qu'il n'y a pas de parti complètement libéral, et que la plupart des hommes politiques sont plus prompts à nous forcer à entrer dans le système qu'ils préconisent, à coup de lois et de règlements, plutôt que nous laisser vivre comme nous l'entendons. Entre parenthèses, cela reflète de leur part un mépris certain pour l'individu, puisqu'ils ne le croient pas capable de se conduire honnêtement et solidairement s'il ne rentre pas dans leur système. Or c'est évidemment le contraire qui se produit. L'individu ne recherche plus la vertu lorsqu'il lui suffit d'appliquer les règlements pour se donner bonne conscience, et il ne ressent plus le besoin d'être solidaire lorsque l'État l'est à sa place.

Dans notre pays, la pensée libérale est ancienne et profonde. Elle été illustrée par une pléiade d'écrivains prestigieux, parmi lesquels on peut citer : La Boétie, Montaigne, Montesquieu, Voltaire, Diderot, Turgot, Condorcet, Benjamin Constant, Jean-Baptiste Say, Frédéric Bastiat, Victor Hugo, Alexis de Tocqueville, Gustave de Molinari, Jacques Rueff, Bertrand de Jouvenel, Raymond Aron, Jean-François Revel.

Vous remarquerez au passage que quatre de ces grands penseurs sont originaires d'Aquitaine. Il y a lieu d'en être fier.

A vrai dire, la pensée libérale est si prestigieuse qu'elle fait de l'ombre aux hommes de pouvoir. Aussi la dénigrent-ils sous des vocables variés, et se gardent-ils bien de l'enseigner dans leur système d'éducation. Si bien que les idées les plus fausses courent à son sujet. Mon ambition est de rétablir la vérité en définissant avec précision ce qu'est le libéralisme, et en montrant l'implacable logique qui lie ses différents concepts.

Mais si vous avez des convictions libérales, et si vous voulez défendre efficacement vos idées, la logique ne suffit pas. La plupart des gens ne sont pas disposés à se battre pour des raisonnements, si même ils veulent bien les écouter. En revanche ils sont prêts à se battre, voire à mourir si nécessaire, pour des principes moraux. Je vais donc m'efforcer de montrer que le libéralisme est non seulement le système le plus efficace sur le plan économique, mais encore le seul système social moralement cohérent.

Le libéralisme c'est d'abord une morale individuelle, ensuite une philosophie de la vie en société dérivée de cette morale, enfin seulement, une doctrine économique qui se déduit logiquement de cette morale et de cette philosophie.

Cette morale repose sur deux concepts-clés :

La responsabilité individuelle : être responsable, cela veut dire assumer soi-même les conséquences de ses propres actes. C'est un principe d'apprentissage par tâtonnement et d'autoperfectionnement.

La liberté individuelle : la liberté consiste à pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas à autrui ; ainsi l'exercice des droits naturels de chaque homme n'a de bornes que celles qui assurent aux autres membres de la Société la jouissance de ces mêmes droits. (Déclaration des droits de l'homme et du citoyen de 1789. Article 4)

Ces deux concepts ne sont pas indépendants l'un de l'autre. Aucun des deux ne peut exister sans l'autre. En effet, on ne peut être responsable de ses actes que si on est libre de les commettre ou non. Réciproquement, si l'on veut respecter la liberté des autres, il faut assumer soi-même les conséquences de ses actes.

Ces deux concepts ne sont pas non plus arbitraires. Ils se déduisent d'un principe universel qui est celui du maintien de la vie et de la recherche du bonheur.

Toutes les fonctions de tous les être vivants, du plus simple au plus complexe, n'ont qu'un objectif : maintenir leur vie. On peut donc dire que tout ce qui la maintien est bon, et que tout ce qui la menace est mauvais. Voilà, pour les libéraux, le fondement de la morale.

Un être vivant doit se procurer l'énergie ou la nourriture dont il a besoin pour vivre et se propager, et se protéger des menaces extérieures. Il doit réagir aux conditions extérieures - comme le chaud et le froid -, ou aux agressions, par des actions. Chez les plantes et les animaux inférieurs, ces actions sont entièrement automatiques et inconscientes. Chez l'homme, les choses sont un peu plus compliquées :

L'homme a un cerveau développé qui lui permet :

de concevoir des objectifs
de lancer des actions dont les résultats vont augmenter ou diminuer sa satisfaction. Ces actions s'obtiennent au prix d'un EFFORT
de mémoriser le résultat de ces actions


d'analyser ces résultats et de tirer des conclusions sur la façon de les améliorer

Cette faculté décisive s'appelle LA RAISON.

On voit tout de suite que grâce à ses efforts, et à l'utilisation de sa raison, l'homme ne peut progresser indéfiniment vers la recherche du bonheur qu'à deux conditions :

Qu'il soit libre de ses actions.
Qu'il en assume les conséquences.

S'il jouit de la liberté, l'homme peut créer, inventer de nouvelles voies.

S'il en assume les conséquences, il peut tirer parti de ses erreurs pour progresser.

Nous retrouvons ainsi les deux principes-clefs de la pensée libérale : la Liberté et la Responsabilité.

Voyons maintenant quelles conséquences on peut tirer de ces deux principes :

1. Pour assurer sa vie, l'homme doit produire des biens qu'il pourra consommer, stocker, ou échanger, et des services qu'il pourra échanger contre d'autres biens ou services. Celui qui n'a pas droit au produit de ses efforts n'a pas la certitude de pouvoir entretenir sa vie de la façon qu'il le désire. L'homme qui produit alors que d'autres disposent de ce qu'il produit est un esclave. La propriété acquise par l'effort et la raison est donc une condition impérative de l'exercice de la liberté.

Celui qui produit et échange gagne ce qu'il a. Il ne donne ni ne prend ce qui n'est pas mérité. Il ne s'attend pas à être payé sur sa bonne mine, ou sur ses plaintes, ou sur l'expression passive de ses besoins, mais sur ses réalisations, sur ce qu'il a accompli.

Réciproquement, la propriété acquise par la force, le vol, ou la tromperie, est en contradiction formelle avec la morale libérale. La règle peut être la plus forte du libéralisme, est qu'on ne doit rien obtenir des autres par la coercition, mais seulement avec leur consentement.

2. L'homme produit au prix d'un effort, en utilisant sa raison. Il obtiendra des résultats d'autant meilleurs qu'il fera plus d'efforts et utilisera mieux sa raison. C'est la seule source d'inégalité cohérente avec la morale libérale.

Le corollaire est que la morale libérale ne tolère pas l'inégalité devant la loi, quelles qu'en soient ses formes : l'esclavage, les castes, les titres nobiliaires, les privilèges.

Nous allons voir maintenant que l'existence de la société améliore considérablement l'efficacité de l'individu dans sa recherche du bonheur par l'effort et la raison, et que réciproquement, la recherche individuelle du bonheur par l'effort et la raison engendre des conséquences extrêmement positives pour la société.

D'abord, la comparaison de ses résultats avec ceux des autres permet de progresser - à condition que le jugement ne soit pas altéré par l'envie. Ainsi la recherche de l'efficacité fait progresser la morale.

Ensuite, s'il jouit de la liberté, l'homme peut créer, inventer de nouvelles voies. Ce faisant, il enrichira aussi les autres. L'homme qui fournit seulement un travail physique consomme à peu de choses près l'équivalent de la valeur qu'il produit. L'homme qui produit une idée, une invention, ne reçoit qu'une infime partie de la valeur qu'il a ajoutée au patrimoine de l'humanité, et dont un nombre illimité de personnes bénéficiera.

Enfin, l'individu peut obtenir les biens ou les services qu'il ne peut ou ne veut produire lui-même, grâce à l'échange, sanctionné par un contrat si l'échange s'accomplit dans la durée. Lorsque l'échange est libre, les deux parties y trouvent leur satisfaction et aucun tiers n'est lésé.

Ainsi, si aucune autorité n'intervient pour lui dicter ses choix, l'homme peut choisir le travail qu'il préfère, se spécialiser dans ce travail, et aller aussi loin dans la voie du succès que sa volonté et son talent le permettent. Mais ce succès dépend de la valeur objective de ce travail pour les autres. Lorsque les hommes sont libres de leurs échanges, c'est le meilleur produit et le meilleur jugement qui l'emportent dans tous les domaines de l'action humaine, qui élèvent les niveaux de vie et de pensée de tous ceux qui participent à cette action.

Les échanges favorisent les rapports pacifiques entre les hommes et contribuent à la moralisation de ces rapports. Pour que les échanges soient efficaces, ils doivent exclure le mensonge. Les échanges au sein de sociétés un peu complexes exigent donc la confiance.

Contrairement aux anciens rois et seigneurs féodaux, aux modernes dictateurs, et même aux représentants de nos gouvernements, le chef d'entreprise n'obtient rien par la force : il sert autrui. Il doit satisfaire ses clients, et il perd tout pouvoir dès qu'il n'est plus en mesure d'assurer de meilleurs services que ses concurrents. La plus grosse entreprise perd sa puissance et son influence dès qu'elle perd ses clients. Le profit va seulement à celui qui a compris ce que veulent les autres. Il n'en est pas de même pour les activités de l'État, qui ne connaissent aucune sanction.

Ceci a été parfaitement exprimé par la grande philosophe et romancière américaine Ayn Rand, dans un roman fameux, mais malheureusement pas traduit en français qui s'appelle "Atlas Shrugged". Dans ce roman, un système totalitaire s'insinue peu à peu dans l'État Américain. Le Héros, Hank Rearden, un self made man, subit un procès parce qu'il ne se plie pas volontairement aux demandes du pouvoir. Comme dans tous les procès totalitaires à leurs débuts, le pouvoir espère que Hank Rearden s'accusera publiquement en échange de sa liberté. Mais Hank Rearden est d'une autre trempe. Voici ce qu'il dit à ses juges :

«...Je ne travaille pour rien d'autre que mon profit - que j'obtiens en vendant un produit dont ils ont besoin à des gens qui ont envie de l'acheter et qui en ont les moyens. Je ne le produit pas pour leur bénéfice au détriment du mien, et ils ne l'achètent pas pour mon bénéfice au détriment du leur ; je ne leur sacrifie pas mes intérêts et ils ne me sacrifient pas les leurs ; nous traitons en égaux, par consentement mutuel, à notre avantage mutuel - et je suis fier de chaque centime que j'ai gagné de cette façon. Je suis riche, et je suis fier de chaque centime que je possède. J'ai gagné mon argent par mon propre effort, par le libre échange et le consentement volontaire de tous ceux avec qui j'ai eu à faire - le consentement volontaire de ceux qui m'ont employé quand je débutais, le consentement volontaire de ceux qui travaillent pour moi aujourd'hui, et le consentement volontaire de ceux qui achètent mon produit.

Je répondrai à toutes les questions que vous avez peur de me poser ouvertement. Est-ce que je souhaite payer mes ouvriers plus que leurs services ne valent pour moi ? Non, je ne le souhaite pas. Est-ce que je souhaite vendre mon produit moins cher que mes clients sont près à le payer ? Non, je ne le souhaite pas. Est-ce que je souhaite le vendre à perte ou le donner ? Non, je ne le souhaite pas. Si cela est mal, faites ce que vous voulez de moi, selon vos propres standards. Voici les miens : je gagne ma propre vie, comme tout honnête homme doit le faire. Je refuse de me sentir coupable de mon existence et du fait que je dois travailler pour la soutenir. Je refuse de me sentir coupable de pouvoir le faire et de le faire bien. Je refuse de me sentir coupable du fait que je le fais mieux que la plupart des gens - du fait que mon travail a plus de valeur que celui de mes voisins et que plus de gens ont envie de me payer. Je refuse de m'excuser pour mes capacités - je refuse de m'excuser pour mes succès - je refuse de m'excuser pour mon argent.»

Est-ce à dire que le libéral n'agit que par intérêt personnel ? Nullement, mais pour lui, la sollicitude vis à vis de ses semblables, la solidarité, sont des vertus individuelles qui s'exercent directement ou au moyen de libres associations. Il ne considère pas comme solidarité le fait de faire redistribuer par l'État l'argent pris à d'autres.

Pour satisfaire des objectifs qui dépassent ses seules capacités, l'individu s'associe librement à d'autres individus pour constituer des associations ou des sociétés. Ces groupements peuvent à leur tour s'associer pour accomplir des objectifs encore plus ambitieux. Mais les groupes d'ordre supérieur ne doivent pas retirer aux groupes d'ordre inférieur (dont le plus petit est l'individu), ce que ces derniers peuvent accomplir eux-mêmes : c'est le fameux principe de subsidiarité.

Pour le libéral, l'État lui-même devrait être une association d'ordre supérieur à laquelle les associations d'ordre inférieur délégueraient certains pouvoirs et certains moyens, selon le principe de subsidiarité. Mais nous vivons depuis toujours dans un schéma strictement inverse où l'État dispose de tous les pouvoirs et ne consent à déléguer quelques petits espaces de liberté aux citoyens que lorsque ceux-ci le lui arrachent.

L'État est le plus grand danger potentiel pour l'individu, car il détient le monopole de l'usage de la force contre des victimes isolées et désarmées, et ce pouvoir attire comme des mouches les hommes ambitieux. Année après année, les rapports d'Amnesty International sont remplis des horreurs perpétrées par les États : les guerres, les massacres, les déplacements de population, les camps de concentration, les destructions, les enlèvements, les détentions arbitraires, les tortures, les famines, les persécutions, les confiscations.

À défaut de pouvoir reconstruire les institutions selon le principe de subsidiarité, les libéraux s'efforcent de limiter le pouvoir des États. C'est eux qui ont inventé le principe de séparation des pouvoirs, si difficile à mettre en œuvre, même dans notre vieille démocratie. C'est eux qui ont inventé la Déclaration des Droits de l'Homme de 1789 pour protéger les individus contre l'État.

Mais le libéral est conscient que si l'homme peut acquérir des biens par l'effort et la raison, il peut aussi les acquérir aux dépens des autres. Il accepte donc comme un moindre mal une autorité dont la seule vocation serait précisément de faire respecter les droits individuels. En pratique cela veut dire un État limité aux seules fonctions dites "régaliennes" : la Justice, la Police, et la Défense Nationale, ce qui implique une Diplomatie. Toutes les autres fonctions sont mieux accomplies par la libre association d'individus selon le principe de subsidiarité.

Il est bon de rappeler que cette vision d'un État minimum était celle des fondateurs de la démocratie américaine :

« Nous tenons pour évidentes par elles-mêmes les vérités suivantes : tous les hommes sont créés égaux ; ils sont dotés par le Créateur de certains droits inaliénables ; parmi ces droits se trouvent la vie, la liberté, et la recherche du bonheur. Les gouvernements sont établis par les hommes pour garantir ces droits, et leur juste pouvoir émane du consentement des gouvernés. Toutes les fois qu'une forme de gouvernement devient destructrice de ce but, le peuple a le droit de la changer ou de l'abolir et d'établir un nouveau gouvernement, en le fondant sur les principes et en l'organisant en la forme qui lui paraîtront les plus propres à lui donner la sûreté et le bonheur. »

En résumé, le libéralisme est un système dans lequel s'épanouit celui qui utilise sa raison, qui fournit des efforts, qui échange ou s'associe librement avec les autres, notamment pour désigner un gouvernement à qui ils délèguent le pouvoir de faire respecter les droits individuels. Dans ce système, le transfert de biens d'un individu à un autre ne se fait pas par décret, redistribution, expropriation, vol, pillage ou faveur du prince, mais par l'échange volontaire.

Dans tous les autres systèmes, un pouvoir central domine peu ou prou l'individu, et exerce sur lui diverses spoliations.

Le libéralisme, contrairement à tous les autres régimes, n'admet pas la seule inégalité qui soit vraiment injuste : l'inégalité devant la loi : ce sont des libéraux qui ont éliminé l'esclavage, les castes, les titres nobiliaires, les privilèges. En revanche il ne considère pas comme immorales les inégalités de résultat. Mais n'est-il pas profondément injuste de récompenser de la même façon le paresseux et celui qui se donne du mal ? Celui qui fait n'importe quoi et celui qui réfléchit ? C'est parce qu'il existe cette récompense à la raison et à l'effort que les sociétés qui appliquent la morale libérale ont toujours été, dans tous les temps et sous tous les cieux, les sociétés les plus prospères, comme elles ont été les plus tolérantes, les plus ouvertes et les plus humaines.